Alta Roda nº 762 — Fernando Calmon — 3/12/13
SEGURANÇA
TEM PREÇO
Mais uma rodada de resultados foi divulgada
na semana passada pela organização não governamental (ONG) uruguaia Latin NCAP.
A boa notícia é que, pela primeira vez, três carros fabricados e/ou vendidos no
Brasil – dois da Ford, EcoSport (brasileiro) e Focus (argentino); um da
Volkswagen, Jetta (mexicano) – receberam a classificação máxima de cinco
estrelas em testes de colisão contra barreira com uso de manequins. Alcançaram
quatro estrelas Hyundai HB20, produzido aqui, e Chevrolet Malibu, no México.
Dessa vez os fabricantes patrocinaram todos
os ensaios, incluindo fornecimento de veículos e serviços da ONG. Mas é bom repisar:
propósitos são nobres, métodos nem tanto. O sistema de estrelas, bastante
controverso, nem sempre reflete o conceito correto de segurança. Carros
construtivamente iguais recebem pontuação diferente dependendo do critério de
cada país. EUA e União Europeia mantêm sérias divergências técnicas sobre o
assunto.
Para avaliar as distorções basta citar o
próprio EcoSport, analisado ano passado como 4-estrelas. Seguindo as regras, a
Ford adicionou só um aviso sonoro sobre uso do cinto de segurança para o
passageiro do banco dianteiro (motorista já tinha), não fez nenhuma mudança estrutural
por ser um carro recente, pagou o teste e ganhou a estrela extra. O melhor
custo-benefício em termos de marketing, sem dúvida. O mesmo modelo produzido na
Tailândia e exportado para a Europa levou 4 estrelas no NCAP europeu (matriz do
Latin NCAP). Alguns critérios lá são diferentes, porém se apegam a firulas
discutíveis na classificação.
Outro exemplo é o Malibu, automóvel
médio-grande vendido também nos EUA, onde se obriga há anos os avisos sobre
cintos de segurança. O carro tem 10 airbags. Recebeu quatro estrelas em
segurança para adultos e apenas uma para bancos infantis. Justificativa: “Os
lembretes de cinto de segurança estão instalados; contudo, não cumprem
requisitos do Latin NCAP”. A entidade também se perdeu nas explicações sobre o
padrão Isofix para fixação desses bancos, ainda sem homologação no Brasil. Em
teoria, impede o uso aqui, mesmo o veículo tendo o sistema.
Quanto à Hyundai, ganhar mais uma estrela
em menos de seis meses foi fácil. Bastou mudar alguns tipos de material
interno, nada de mudanças estruturais (nem daria tempo), pagar o teste e
receber a justa avaliação retroativa a todos os HB20. Esclarecida a
disponibilidade dos bancos infantis com Isofix, a classificação aumentou de uma
para três estrelas.
No senso comum, a escala poderia ser
péssimo, ruim, regular, bom e ótimo para as cinco estrelas. O Latin NCAP
acrescentou, recentemente, a nota zero-estrela para carros que nem deveriam
estar à venda. Dentro de alguns dias nenhum modelo poderá ser fabricado no
Brasil sem airbags e freios ABS. Assim, mesmo a grande maioria de carros de
menor preço alcançaria três ou quatro estrelas.
A tendência, porém, é a ONG subir a barra.
Já era tempo de o governo estabelecer novo cronograma de exigências e parar de
ser rebocado pelos acontecimentos. Afinal, segurança tem preço, sim: airbag
para pedestre (ente 100% vulnerável)
está instalado em um único modelo no mundo, o Volvo V40.
RODA VIVA
PLANOS da Honda para nova fábrica em Itirapina (SP) vão além do SUV
compacto Vezel, recém-apresentado no exterior. Contemplam, até 2016, um hatch para
o segmento de entrada, abaixo do preço do Fit. A empresa já estuda quem errou e
quem acertou nesse importante veio de mercado. E terá centro de desenvolvimento
na nova unidade, em adição ao de Sumaré (SP).
SEDÃ Chevrolet Classic passa a ser produzido apenas em Rosário,
Argentina, ao lado do Agile, em razão da acomodação de vendas de ambos os
modelos, lá e aqui. Sucessor do Cruze também será argentino. Já no primeiro
trimestre de 2014 a GM anunciará investimento pesado na sensível unidade de São
José dos Campos (SP), visando ao mercado promissor de subcompactos.
RETOQUES externos e, em especial, internos graças a novos materiais, como
preto piano, dão fôlego para competir ao minivan de sete lugares JAC J6. Motor de
2 litros/136 cv tem pouca potência, mas torque é adequado ao peso e uso no dia
a dia. Suspensões, macias demais, e vão livre relativamente baixo dificultam
passagem por valetas e lombadas fora do padrão.
SERÁ bom observar o movimento de fornecedores de turbocompressores no
Brasil. BorgWarner já tem primeiro acordo que, se espera, seja com PSA Peugeot
Citroën para novos motores flex de três e quatro cilindros. O grupo francês não
poderá contar com as unidades produzidas em colaboração com a BMW depois de 2016.
VW deverá ser o segundo cliente.
QUEM alugar carro, a partir de 1º de maio de 2014, se responsabilizará
diretamente por multas de trânsito. Governo atendeu as locadoras e criou Registro
Nacional de Posse e Uso Temporário de Veículos. Ao mesmo tempo em que acaba com
a tentativa de impunidade dos maus motoristas, espera-se diminuição de custos
repassável ao valor das diárias.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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