Alta Roda nº 764 —
Fernando Calmon —
17/12/13
DESGASTE
DESNECESSÁRIO
A extensa lista de modelos que sairão de
linha em 2013 demonstra que alguns fabricantes, finalmente, se convenceram de
não valer a pena passar por tantos desgastes. E a senha para esse fim foi
justamente a lei que estabeleceu freios ABS e bolsas infláveis, embora razões
de mercado também tenham prevalecido.
Picape Courier foi a primeira baixa do ano,
ainda em abril. Até 31 de dezembro, a relação de fim de fabricação (FdF) será
engrossada por Kombi, Mille, Fiorino antigo, Ka e Gol Geração IV (poderia
receber os itens citados, mas dará lugar ao up!). FdF não significa fim de
vendas, pois há estoques. No caso dos itens de segurança o limite é 31 de março
próximo. Mas há outros casos. Fiesta Rocam ganhou sobrevida de alguns meses até
a chegada do novo Ka. O Golf IV, por razões comerciais/industriais e não
técnicas, também terá FdF nos próximos dias, mas será comercializado até o
final do estoque em 2014.
Kombi é um fenômeno único de longevidade da
segunda metade do século passado. Completou 57 anos de fabricação (inclui o
primeiro ano, 1957) graças ao uso prevalecente como veículo de trabalho.
Surpresa maior, o Mille esteve em produção por nada menos de 30 anos (inclui
1984), algo raríssimo no caso de automóveis e ainda porque só ocorreram mudanças
superficiais. Gol G IV superou o Mille nessa disputa inglória: saiu das linhas
de montagem por 34 anos (inclui 1980). Mas o líder de mercado teve entre-eixos
aumentado e carroceria arredondada em 1994 (apelidado de Bolinha), o que talvez
o coloque na história como exemplo digno de purgatório por ter, afinal, compatibilidade
com recursos primários de segurança.
Há pessoas que choram o fim de modelos superados
por meio de regulamentos de segurança e ambientais ou até empregos perdidos.
Nada mais falso. Essa mentalidade levou à situação absurda em que governo e
parte dos fabricantes aventaram, semana passada, adiar a obrigatoriedade do uso
de airbags e ABS por dois anos, a partir de 1º de janeiro próximo.
Depois de embates nos bastidores, recuaram
parcialmente. A Kombi sobreviverá por dois anos – única exceção – com desculpas
como empregos gerados e pelo uso comercial. Estrago institucional, no entanto,
já está feito. Péssimo para o País mudar regras a menos de 15 dias de vigorar. Volkswagen,
inclusive, deve explicações ou compensações a quem já adquiriu as duas séries
especiais “Última Edição”.
Governo mostra improvisação. Nos EUA, há 40
anos, houve cronograma diferenciado e limitado para exigências de segurança
entre automóveis e veículos comerciais leves. Aqui, em 2009, já se sabia que o
furgão alemão tinha características únicas e, eventualmente, insubstituíveis. O
escalonamento de cinco anos, estabelecido pelo Contran, era razoável. Deixar
isso para a undécima hora, a fim de agradar sindicalistas ou usuários
específicos, é um tremendo desgaste.
Por que governo e indústria não aprendem a
lição e estabelecem novas exigências factíveis para os próximos cinco anos? Imobilidade
é tudo que organizações oportunistas, como Latin NCAP, desejam para conduzir testes
e critérios discutíveis.
RODA VIVA
BMW
GROUP surpreendeu ao ampliar seu comprometimento
com o mercado brasileiro. Já se sabia que o sedã Série 3 (mais vendido da marca
aqui e no mundo) e o SUV derivado dele, X1, além do hatch Série 1, modelo de
entrada, estavam entre os que entrarão em produção em Araquari (SC). Inclui agora
o X3 (arquitetura com base no sedã Série 5) e o Mini Countryman.
PELA primeira vez, BMW e Mini dividirão o mesmo teto de uma fábrica, a
partir de outubro de 2014. Cronograma prevê intervalo de apenas três meses para
os três primeiros produtos. É bem provável que por sair na frente no segmento
premium e projetar a maior capacidade instalada (32.000 unidades/ano), existam
planos ainda mais ousados, incluindo exportações.
STRADA
cabine dupla de três portas não oferece espaço razoável
para adultos no banco traseiro, porém no uso urbano a porta extra atrás agiliza
o acesso na maioria dos casos. Impressiona a robustez da solução, mesmo em pisos
ondulados e buracos. Melhor combinação é a versão avaliada: motor 1,8 l/132 cv
(etanol) e câmbio automatizado, apesar do preço salgado.
CHERY admite ter avaliado mal a competitividade dos produtos importados
da China, em meio à contração do número de concessionárias. Queda de vendas foi
de 40% em 2013 sobre 2012. Inauguração da fábrica de Jacareí (SP), no segundo
trimestre de 2014, produtos mais atuais, rede ampliada, centro de pesquisas e
unidade de motores ajudarão na virada que ela espera.
PARA ganhar – ou manter, no pior cenário – dinamismo nas vendas, a JAC,
segunda marca chinesa a construir fábrica no Brasil (2015), aposta em sistemas
multimídia nas linhas J3 e J6. Tela tátil de 6,2 pol. no painel ou na parte
posterior dos encostos de cabeça dianteiros, sem cobrança adicional, é uma
fórmula de atrair e evitar descontos que repercutem no valor de revenda.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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