Alta Roda nº 721 — Fernando Calmon — 19/2/13
PAGAR
E FICAR CALADO
Prioridade para circulação dos automóveis
nas cidades é a regra no Brasil. Todos estão cansados de ouvir. Será mesmo que
existe esse “privilégio”? Em função de arrecadação de impostos, a lógica
econômica diz que quem paga a conta deve (ou deveria) usufruir, se não os
melhores serviços, pelo menos algo proporcional ao desembolso.
Fique de lado toda a imensa cadeia de
impostos, taxas, tarifas e penduricalhos fiscais e parafiscais, em níveis federal,
estadual e municipal, que incide sobre os motoristas ao longo de toda a vida de
suas máquinas. De longe, a maior carga fiscal do mundo, direta e indireta. Foco
é no IPVA. O Imposto sobre Propriedade
de Veículos Automotores (inclui barcos e aviões, mas quase tudo vem de veículos
sobre pneus), apenas em 2012, arrecadou nada menos de R$ 27 bilhões (cerca de
US$ 14 bilhões), segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. E US$
14 bilhões, só como ordem de grandeza, foi o custo histórico da hidrelétrica de
Itaipu, ainda hoje a maior do mundo em geração efetiva, que levou sete anos em
construção.
Metade de apenas esse único volumoso
imposto vai para Estados e a outra metade, dividida entre municípios. Então,
prioridade mínima para a circulação de veículos deveria incluir coisas
corriqueiras como manutenção das vias e, mais do que isso, a sinalização
semafórica. Seria absurdo, então, pedir câmaras de vigilância (em funcionamento
efetivo) e painéis eletrônicos que indicassem situações de emergência, mais do
que previsíveis em cidades do porte de São Paulo? A resposta, provavelmente, é
que se trata de privilégios.
Volte-se ao corriqueiro, então. Chuvas
fortes de verão, inundações de praxe, queda de árvores, falta de luz e o
trânsito, obviamente, caótico. Mas como reagir, horas depois de um temporal, já
com iluminação pública recuperada, a mais de uma centena de semáforos apagados
ou embandeirados? Revoltante, uma viagem de 20 minutos se transformar em duas
horas porque a cidade mais rica e que mais arrecada impostos possui apenas 200 cruzamentos
com no-breaks, que em caso de apagão mantêm equipamentos elétricos e
eletrônicos em funcionamento.
Não é vantagem indevida nenhuma. Tanto que
a prefeitura paulistana e a concessionária de energia assinaram convênio para
outros 178 sinais com no-breaks. Mas não foram instalados e se desentendem
sobre a data em que deveriam ter sido. Mais grave: quem garante que a
manutenção preventiva foi ou será feita? Metade das câmeras de vigilância de
trânsito está inoperante por falta de cuidados. Mas os radares, fontes de
arrecadação, estão perfeitos e com no-breaks, na maioria.
Plano de semáforos inteligentes, que se
autoajustam ao nível do tráfego, foi desdenhado e sua ampliação, nunca
efetuada. Certamente faz parte de regalias, daquelas que merecem condenação
veemente. Mais fácil é impor rodízio de circulação pelo final da placa, que cria
outros problemas e adia soluções inteligentes.
Indústria automobilística gera impostos
suficientes para ampliar o transporte sobre trilhos (subterrâneo e aéreo) e
melhorar, realmente, o trânsito nas grandes cidades. Motorista e automóvel não
podem ser culpados pela inépcia do poder público. Ou, para sempre, pagar e
ficar calado.
RODA VIVA
CORTES de preço (2 a 20%) nos modelos BMW e MINI, em função da aprovação
da fábrica em Araquari (SC), dá à marca grande poder de competição. Carros mais
caros, como o agora lançado Gran Coupé 640 (R$ 399.950) não se beneficiaram. Só
dentro de seis meses haverá solenidade no local das obras, mas início de
produção, confirmado para fim de 2014.
ESPERA-SE
que Mercedes-Benz seja próxima marca premium alemã
a confirmar produção no Brasil, nos próximos três meses. Não descartou utilizar
instalações industriais da Nissan, em Resende (RJ), no segundo semestre de
2014, por conta de parcerias entre as matrizes no exterior. Mais provável,
porém, é partir para fábrica exclusiva, em outro local.
FOCO do regime automobilístico, Inovar-Auto, é estimular fábricas e
investimentos dedicados a novos produtos. “Puxadões” bastam nos aeroportos. Ainda
depende de definições pelo governo federal o controle de conteúdo local de
autopeças e componentes. Tema é complexo e de difícil formulação. Fala-se em
três a quatro meses para solução final.
CRIATIVA firma alemã Foliatec lançou na Europa filme protetor para veículos
em spray. Camada formada, totalmente invisível, protege para-choques, grades,
rodas, faróis, lanternas e outros componentes. Adere em metal, plástico e
vidro. Protege contra arranhões, pedriscos, lama e sujeira. Pode ser removido
sem deixar vestígios e reaplicado.
DOCUMENTÁRIO Nutz, da produtora Firma
Filmes, de Dino Dragone, breve em cartaz, traz interessante depoimento de
Fernando Jaeger sobre a reprodução perfeita de antiga concessionária Vemag, a
Dekabras, de São Leopoldo (RS). Instalações refletem exatamente o visual de cerca
de meio século atrás, inclusive carros no salão de exposição.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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