Alta Roda nº 707 — Fernando Calmon —
13/11/12
TIMIDEZ
CONVENIENTE
A quinta fase do Programa Brasileiro de
Etiquetagem (PBE), a partir de janeiro de 2013, coloca o Brasil no rumo certo
quanto ao direito à informação sobre o consumo de combustível, além de
estimular a competição entre os fabricantes. O PBE é coordenado pelo Inmetro (Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) em parceria com o Conpet
(programa de racionalização do uso de derivados de petróleo e gás, do
Ministério de Minas e Energia, e gerenciado pela Petrobras). Começou em 2008,
de forma voluntária e modesta, com a adesão de apenas cinco fabricantes e 54
versões de alguns modelos.
O caráter voluntário continua até hoje, mas
deveria – e deverá – ser obrigatório. A importância do programa cresceu ao se
tornar um dos critérios para enquadramento no Inovar-Auto, novo regime de
produção automobilística do período 2013-2017. Até o ano passado, nove
fabricantes (incluindo um importador) participavam: Citroën, Fiat, Ford, Honda,
Kia, Renault, Toyota e Volkswagen. Já em 2012 a lista subiu para 20 empresas,
das quais quatro produzem no país: Hyundai Brasil, Mitsubishi, Nissan e Suzuki.
Há algumas poucas falhas no PBE, entre elas
a classificação dos veículos baseada em área projetada no solo e uma designação
de categorias um pouco diferente do usual no mercado. Entretanto, o critério de
massa vai prevalecer, como acontece na Europa. Apesar do cuidado do Inmetro em
evitar modelos “especiais” que não refletissem a realidade da oferta, isso acabou
acontecendo em casos isolados. Foi a desculpa alegada pela Chevrolet para
renegar o programa, embora admita que “vai aderir nos próximos anos”, mesmo
porque afeta a imagem da marca.
Agora mesmo nos EUA, Hyundai e Kia
divulgaram informações erradas sobre o consumo de 900.000 veículos dos
anos-modelo 2011 a 2013. Além de, voluntariamente, indenizar os compradores, o
grupo sul-coreano está sujeito a pesadas multas do governo. Aqui, a Hyundai já
enquadrou o novo HB20 que recebeu nota A, na versão de 1 litro: 7,6/11,5 km/l, cidade
e 9,8/14,5 km/l, estrada (etanol/gasolina).
No Brasil, o controle sobre as informações
do PBE é bem mais rígido e independe de denúncia de consumidores. Há uma dupla
checagem anual, inclusive ensaios na presença de todos os interessados. O
programa acaba de ser ampliado com a etiquetagem de pneus. O índice considera
frenagem no molhado, ruído e resistência ao rolamento (ligada à economia de
combustível).
As etiquetas do próximo ano estarão no
para-brisa ou vidro lateral de todos os modelos enquadrados no PBE (só poderão
ser retiradas após o carro sair da loja) e trazem uma novidade: emissão de CO2.
Acertadamente, o Inmetro indicou os valores apenas dos combustíveis de origem
fóssil e descontou a parte de etanol da gasolina. O biocombustível de
cana-de-açúcar é considerado avançado até pela agência ambiental americana.
Significa que, na prática, o gás carbônico emitido se autocompensa no ciclo de
vida de crescimento da planta.
Claro, algumas empresas petrolíferas não
gostam de encarar essa realidade, pois afeta seus negócios. No recente Salão do
Automóvel de São Paulo fabricantes já exibiam as novas etiquetas, com emissão
zerada de CO2 dos motores flex quando abastecidos com etanol. Para a
Petrobras, o programa Conpet só mereceu um pequeno painel escondido no fundo do
estande, o que deixou o parceiro Inmetro sem visibilidade em evento tão
importante. Contraditório é a paraestatal ter grandes investimentos em
biocombustíveis no Brasil, mas parece tímida ao divulgá-los.
RODA VIVA
RESTAM poucas dúvidas de que o mercado interno chegará este ano às 3,8
milhões de unidades, depois dos bons resultados de outubro: 341 mil veículos,
incluídos caminhões e ônibus. Acumulado dos 10 primeiros meses está 5,7% acima
de 2011. Como o IPI menor vai até 31 de dezembro, maioria dos fabricantes adiou
férias coletivas para início de 2013.
VONTADE de sorrir, quando se lê por aí que há concorrência insuficiente no
Brasil e, por isso, preços altos. Último levantamento aponta que, apenas entre
modelos produzidos aqui, são 972 opções, somadas versões, acabamentos
(catálogos) e trens de força (motor e câmbio) disponíveis. Ao acrescentar
modelos importados, supera 1.500 ofertas.
AMBIENTE interno destaca-se no EcoSport. No dia a dia, passa sensação de um
modelo maior, embora seu principal concorrente, Duster, seja referência entre
SUVs compactos. Evolução de motor, agora 1,6 litro/115 cv, e câmbio, além da
direção eletroassistida, mudam o modelo de patamar. Regular o volante todo para
cima, obriga a elevar o banco, a fim de não encobrir marcador de combustível.
DEPOIS de quatro anos, a Única, associação de produtores de etanol de São
Paulo, faz nova campanha de estímulo ao consumo. Entidade detectou oportunidade
de mostrar aspectos ligados a empregos e meio ambiente. O preço não está tão
competitivo como no passado, mas no momento é vantajoso em São Paulo, Mato
Grosso do Sul e Goiás.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
2 comentários:
Pois é. Cartel não é propriamente concorrência.
Faço coro, cartel não é concorrência.
Só se for para quem faz o jogo de contente. Vai ver que vem daí a "vontade de sorrir".
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