Um Camaro amarelo e ...
Estávamos com seis visitas em casa, de amigos e parentes, quando um deles perguntou o esperado: “Com que carro você está hoje?” Antes de eu poder responder, Vera disse “Um Camaro amarelo.”
Não deu outra: dos seis, quatro se levantaram de suas cadeiras e se dirigiram à garagem, seguidos meio sem graça pelo casal que tinha levantado por último e que normalmente professa não se interessar por automóveis. Sua reação não foi a esperada, por nós e por eles próprios.
“Que coisa linda!”, disse a esposa
“Meu Deus, o que é isso?”, ecoou o marido, meio que empurrando os amigos para ter melhor visão do amarelão.
Algumas das interjeições dos outros visitantes não poderiam ser impressas aqui, mas basta saber que foram todas uniformemente positivas.
Vera deu de ombros, vencida. Ela, que em carros muito grandes, potentes ou chamativos prefere ir como passageira, achou o carro enorme por fora e pequeno por dentro, e com portas enormes e pesadas. “Se alguém estacionar aqui do lado, como é que eu entro ou saio?” Não adianta tentar discutir com ela: seus argumentos são irretorquíveis, como sua maneira de explicar por que defende carros automáticos: “Três pedais para quê, se só tenho duas pernas?”
Assim mesmo, como copiloto testadora de automóveis, não teve como se recusar a dirigir o Camaro (bem pouquinho – não gostou de sua capacidade de aceleração, violenta demais para "um veículo terrestre").
Aí, inesperadamente, chegou um americano amigo nosso, Rex Parker, um professor da maior e mais famosa escola internacional de design, a Art Center College of Design, vindo da reunião de carros clássicos de Lindoia. Rex é um meio-americano, meio- brasileiro, nascido lá de pai americano e mãe brasileira, que apesar de ter vivido quase toda sua vida nos Estados Unidos, fala um português tranquilo e tem como um de seus desejos receber um passaporte brasileiro.
Rex detestou o Camaro, como detesta todo carro tipo 2+2, seja ele da GM, da Ford ou da Chrysler. Grande por fora, pequeno por dentro, potência e torque demasiados tanto nos Estados Unidos como aqui, beberrão, usa matéria-prima demais e, de seu ponto de vista uma série sem fim de erros de filosofia automobilística.
Quando caí na besteira de dizer que achava o V-8 delicioso, a caixa automática também, quase perdi um amigo. Jantamos, nos despedimos, já que na noite seguinte Rex voaria para Los Angeles e quando no dia seguinte pela manhã tirei o carro da garagem, dei de cara com um vizinho que a-do-rou o Camaro. Fui até o escritório e parecia que só faltava ter fila de gente me esperando – não a mim, claro, esperando ao Camaro.
Nos dois dias seguintes, a mesma coisa – e das quase duas dúzias de pessoas com quem conversamos (a maioria das quais desconhecidas, mas que vieram falar do amarelão de faixas pretas e pneus aro 20), não achamos mais ninguém que não ficasse babando pelo carro. À noite tive de levar para uma volta de quase dois quilômetros, ida e volta pela estrada, cinco amigos que queriam porque queriam andar no bicho.
Final do assunto: praticamente 20 a 2 a favor do Camaro. Único problema nessa coisa toda: o precinho de cento e oitenta e poucos (muitos?) mil reais. E quando eu dizia que nos States ele custa de vinte e poucos mil (básico, com motor menor etc.) a trinta e sete mil dólares (completo), aí quase que teve gente querendo mudar de país.
Apesar de todos os problemas relatados aqui, o fato é que ele é uma delícia de guiar – e como anda! Se não tiver cabeça, em uma semana você já vai perder sua carteira. Mas você vai ter de aprender a se divertir de um jeito novo: pegar subidas ultrafortes, entrar lá em baixo devagar, baixar o pé e se divertir com os outros mudando de marchas o tempo todo e desaperecendo no retrovisor....
JOSÉ LUIZ VIEIRA
5 comentários:
Sempre bom ler JLV, melhor ainda em um carro cujas opiniões geram uma certa polêmica.
Bacana, gostei mesmo.
O americano deveria ser processado por alta traiçã0...
Bacana a matéria, por falar do além do óbvio (números de torque potência, aceleração, peso) que normalmente seria dito sobre o "carrão".
Mas... essa foto não é do motor ls7?
Hahaha bota aí, 20 x 3, também não gosto do Camaro...
O carro é lindo, tudo que se vê nele é perfeito, o ronco incomparável, um superesportivo de altíssima qualidade para quem gosta de super carros. Carro de sonho alcançável para brasileiros que são apaixonados por carros com motores e visual que fazem a com que maioria das pessoas fiquem deslumbrada a ver a beleza e potência deste sonho.
Postar um comentário