sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

YAMAHA 650, O ECO DO PASSADO


Pouco tempo depois que P. A. Cabral chegou a estas plagas sem Deus e sentiu que tinha se dado bem, eu comecei a querer andar de moto. Nessas alturas já dirigia automóvel há uns anos - Ah! As delícias da ilegalidade!- e um amigo tinha trazido uma Honda CB 350 de Manaus. Isso foi à tampa de inveja e eu tinha que andar naquilo também, embora até hoje seja um fracasso total de bicicleta. Depois de sair do mesmo quarteirão e me aventurar sozinho autodidaticamete pelas ruas do Rio do fim dos anos 60 de madrugada, eu tinha que comprar uma moto.

Como já em tenra idade tinha o espírito tradicionalista, a primeira moto pensada foi uma BSA Gold Star 650. O problema foi a convivência com os velhos Motards e o testemunho do que era o Método de Manutenção Paranóica: tentar adivinhar o que ia quebrar e fazer algo em tempo. Como devem saber meus dois fiéis leitores, mama Mahar não criou otários... Mal acostumado pelo Fusquinha primeiro carro, comecei a pensar em uma coisa mais confiável, que fosse andar todo dia sem requerer muita intimidade com o mecânico, ferramentas e manuais. Então desisti da BSA. Foi aí que entrou em cena uma moto diferente. Comecei a flertar com uma Yamaha XS1, o que havia no Patropi mais próximo do ultimo urro do Leão Britânico.

TX650 MONTADA NO ESTILO CAFÉ RACER INGLÊS
 Bicilindrica com virabrequim de 360 graus, ou seja, queimando alternadamente e fazendo aquele som sincopado de moto inglesa, a XS1 começou a conquistar meu coração principiante. Era uma moto bem bretã mas sem as imortais características delas, principalmente o SDOC, Sistema de Detecção de Óleo no Cárter: a poça de óleo no chão. Não vazou, não ande que está seco...As carcaças do motor eram divididas horizontalmente e não tinha junta por baixo do motor. Outra coisa: a eletricidade FUNCIONAVA. Incrível, sempre tinha farol, luz de freio, lanterna, pisca e um refinamento inacreditável nos modelos da segunda série: Partia ELÉTRICA que funcionava! O motor era bem mais moderno que os válvulas-na-cabeça da mãe Bretanha,com um comando no cabeçote, dois carburadores e bloco e cárter e alumínio. Girava a SETE mil giros! A caixa era suave, macia e nunca perdia nenhuma das cinco marchas. A quinta era longa pra viajar, e a vibração inevitável com pistões tão grandes se alternando era até bem contida para um BIG THUMPER.
 AVERSÃO FINAL STANDARD DA TX650
Mas ela ainda andava pra trás sozinha ao ser acelerada parada no descanso central. Na segunda serie a XS tinha um belo freio a disco na frente que freava mesmo na chuva sem te jogar no chão depois de deslizar e no final travar a roda. E andava, como provam as inúmeras unidades que foram transformadas em Café Racers ou motos de Speedway. O que naquele tempo era um motorzão durava muito, todo montado em cima de rolamentos de bilhas ou agulhas. A suspensão não era nada de escrever pra casa contando suas Maravilhas, mas dava pro gasto, e afinal ja tinha amortecedores Koni ou Bilstein. Os pneus eram uma merda mas logo vieram os Dunlop ingleses, bons de seco e molhado e a coisa ficou boa. Só que o jovem Mahar acabou optando pela solução careta: uma CB 350. Durável mas balançadeira com seu quadro de marshmallow. Foi ali que aprendi o que é bom pra tosse...


COLUNA PUBLICADDA NA REVISTA MOTO! DESTE MES.


6 comentários:

Unknown disse...

Simplesmente genial. Em especial a parte do SDOC.

Antonio C. Jr. disse...

A moto é linda e maravilhosa, mas há algo que não dá pra ignorar, ó sábio Mahar...
Andar de carro e de moto de maneira ilegal não tem nada de delicioso, e menos ainda de poético ou inspirador.
Isto é uma tragédia nacional! O que faz do nosso país menos do que ele poderia ser! Em Joanópolis, cidade onde moro, moleques acéfalos de doze, quinze anos, pilotam carros e motos como cães raivosos a procura de uma cadela no cio! As autoridades, compadres que são, acham bonito...coisa de macho..."homenzinho feito"! Os imbecis fazem merda uma atrás da outra, e quando lhes é cobrado a responsabilidade por seus atos absolutamente estúpidos, eles são apenas crianças, tadinhos...!
Sei que escrevo como um carola chato e irritante, mas, por favor, comemorar a ilegalidade num blog de expressão nacional não é bom pra ninguém...

Helio Herbert disse...

Entendo o que o Mestre quiz dizer...

Minha primeira moto foi uma XS 650 F1 ano 1972 comprada "quase OK" e sem lenço nem carteira de habilitação vivi os melhores dias da "Aurora da minha vida" como diria o poeta.

Unknown disse...

Para variar muito bom esse olhar Mahalesco bem peculiar do nosso amigo Mahar sobre essa maravilhosa moto pena que hoje em dia não temos projetos tão refinados como esse desta moto .
E para as pessoas que discordam deste tipo de olhar Mahalesco de informar sobre clássicos de 2 e 4 rodas e melhor voltar para sua vidinha medíocre de revistinhas e programas autos de fim de semana .

Antonio C. Jr. disse...

Com relação ao meu comentário inserido nesta matéria, eu queria deixar claro que minhas críticas não são direcionadas ao estilo irreverente e informativo que o Mahar usa para nos contar suas Histórias.
Pelo contrário. Admiro muito a maneira competente como ele faz isto, e admito que é graças a profissionais como ele que as publicações direcionadas ao setor das duas e quatro rodas ainda não se tornaram um profundo e dolorido chute no saco!
Carros e motos são divertidos e necessários, mas nem por isto precisam alimentar o nosso lado "selvagem e irresponsável".
Saudações a todos!

Jotabe disse...

Que viagem Mahar. Ouvi o ronco metalico e ritimado da XS 74 de meuvizinho nos idos de 75. Senti o cheiro da gasolina azul e até as grossas manoplas com amortecimento das Yamahas da epoca. Acho que era a unica coisa em comum com a minha RD 200A azul e com partida eletrica. Ihhh to sentindo cheiro de oleo 2 tempos. Grande abraço. JB.