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Coluna 5210 22.dez.2010
2010, coisas do mercado
Mais um ano de crescimento, de expansão do mercado automobilístico acima de todos os demais índices. E, no setor, em particular, automóveis e comerciais leves deram o tom. Na prática das vendas cerca de 3,5M de veículos, quarto volume mundial. Em análise focada, campo enorme, pois exceto China, líder em expansão num mercado imensurável; EUA em tentativa recuperação; o Brasil dos mais promissores mercados do mundo, justificando interesses, investimentos, quantidade inacreditável de marcas – umas três dezenas, expansão das usinas aqui existentes e sinergia com outras unidades industriais no Mercosul e América Latina.
Bom ? Ótimo para a empregabilidade, da dinamização de negócios ligados a automóvel, do borracheiro ao banqueiro financiador, dos tesouros federal, estaduais, municipais, idem.
Porém, o outro lado da moeda é opaco, sem cuidado, escondendo enorme acidentalidade, mortes, o ocupar desordenado das cidades, ausentes as regras sobre veículos e espaços, e providências obtusas como restrições à circulação dos veículos. A sociedade é ausente nas cobranças sobre os elevados impostos, sua falta de retorno, os veículos deficientes em equipamentos capazes de reduzir danos em acidentes, o uso das cidades por gente e veículos.
Como foi
Ano atípico, interessante para ser estudado e entendido. Em panorama internacional bom o início de recuperação da GM, fazendo lucros e diminuindo o controle do estado norte-americano. Ainda é de um terço, como acionista majoritário, mas a tendência é a volta à independência. Será menor. Ex-segunda, agora maior das norte-americanas, a Ford manteve-se livrando dos periféricos, passou adiante a Volvo e Aston Martin. Foca em carros menores e motores turbo, com cilindrada inferior, caminho da racionalidade.
O casamento entre Chrysler e Fiat é bailado tátil, com idéias, propostas e avaliações. Na Itália a Fiat desistiu de vender a Alfa Romeo à Volkswagen, dela fazendo a marca da volta ao mercado norte-americano. Primeiro passo da simbiose aparentemente impossível, o marcante Chrysler 300 teve sua impositiva grade mudada, amenizada, italianizada, para ser vendido na Europa como Lancia.
Houve cenário de sustos com a quantidade de re-calls pela Toyota, em amplo leque de problemas, modelos e quantidades, prova que mesmo nas empresas mais referenciais, há o perigoso momento da empáfia, quando a auto apreciação ofusca a lógica, cega o bom senso. No caso, a Toyota, referencia industrial e acadêmica em processos de racional qualidade, sentiu-se superior, capaz de resistir a tudo, descurou de sua aferição e tomou prejuízo bilionário, em recursos e imagem. Não fosse dirigida pelo bisneto do fundador, teria outro presidente mundial.
Aqui
2010 foi o ano da coragem. Coragem da marcação de preços com generosa margem de lucros, acima de qualquer referencia numérica ou monetária. Todas as importadoras e montadoras realizaram sólidos lucros.
No cenário do luxo, das maiores estrelas da lucratividade unitária, a Audi retomou o caminho do sucesso no Brasil. Cumpriu metas ambiciosas, e prepara-se a vendas volumosas com o A1, charmoso urbano bem motorizado, espaçoso quanto aos concorrentes Smart e Mini. Marcas de luxo iniciaram vender carros ecológicos, como Mercedes e Ford Fusion Hybrid.
Novo Uno, novo carro, sucesso |
No mercado das montadoras maiores a Fiat conseguiu os melhores resultados: iniciou família com o Novo Uno, de intensa demanda; manteve a liderança de vendas e, no segmento de picapes, faz barba, cabelo e bigode. Na marca o reflexo da agilidade: a compra de fábrica de motores BMW no Paraná deu-lhe a base para nova geração de motores modernos, leves, com grande torque em baixas rotações. Chamados EtorQ, enzimatizaram o comportamento dos Fiat, alavancando vendas.
A Volkswagen mantém a segunda posição, seguida por GM e Ford. Em quinto, a PSA, união Peugeot-Citroën, deve fechar com a láurea.
Industrialmente diz a CAOA produzir em Anápolis, GO, o Hyundai Tucson descontinuado na Coréia mas, pelos maus hábitos da empresa no trato com a verdade dos fatos, e seus anúncios proibidos pelo conselho de publicidade, há dúvidas sobre o projeto e sua continuidade. No panorama industrial a Kia, na Coréia outro braço da Hyundai, e aqui inimiga ferrenha, fez acordo industrial no Uruguai e monta caminhõezinhos.
O mercado nacional parece ter-se cristalizado na formação da República dos Pequenos Quatro Cilindros. A Suzuki anunciou fazer fábrica para o jipinho Jimny; Honda e Toyota terão carro pequeno; e a Nissan quer trazer do México, sem imposto de importação, o March, com promessas de produção local. No tema, como importado com isenção alfandegária, o Fiat 500 será feito no México, na fábrica do descontinuado PT Cruiser.
Em vendas, interessante observar a mudança da política de comunicação da Nissan. Não se perdeu em consertar as partes desgostadas pelos consumidores nos Livina, mas baixou preço e fez anúncios de agressiva comparação. Idem para o picape Frontier, de pouco divulgadas características.
É curiosa a pouca expressão de vendas do argentino picape VW Amarok no segmento. Inequívoca qualidade, mas sem opção de transmissão automática, vendas baixas, não disse a que veio. No tema a Toyota lidera no segmento de picapes de luxo e utilitários esportivos, apresentando versão do RAV 4 com tração apenas em duas rodas. Devia chamá-lo, em nome da proteção ao consumidor, RAV 2.
Francesas Renault e PSA adotaram a fórmula Mercosul, pela qual se tomam produtos para mercados em desenvolvimento e adéquam conceitos e detalhes aos compradores do Cone Sul. É assim com o Renault Fluence, sedã sobre plataforma do Mégane geração não trazida ao Brasil; e com o novo Peugeot 408. Maiores, motores 2.0, automáticos, confortáveis, linhas para países em desenvolvimento. A Citroën iniciou renovar sua linha com o Aircross, bem formulado, bem vendido, e retrato básico do substituto do C3.
No sub trópico a Renault avia esta fórmula com maestria sub tropical através do Logan, do Sandero. Em 2011 o fará com o jipinho Duster, no qual projeta grandes vendas – e lucros. Os franceses dividiram o Mercosul: luxo na Argentina, simplórios no Brasil.
Lazer, trabalho
O segmento dos comerciais leves se expandiu acima dos automóveis, mas nada igual ao de caminhões e ônibus, em recuperação das más vendas de 2009. Foram os recordistas de expansão, assinalando, a grosso modo, 40% de crescimento. O número chinês se deveu à supressão dos impostos e aos financiamentos incentivados pelo BNDES para contornar a crise de liquidez externa.
Mercado de tal forma aquecido permitiu à IVECO, braço de caminhões da Fiat fincar sua cunha no mercado e, justificar a MAN da Alemanha fazer as costuras para iniciar montar caminhões de sua marca, assim como incentivar a recente junção de Caterpillar e International em criar a marca NC2 para produção no país.
Motos
Apesar da expansão do número de fabricantes, utilizando peças chinesas e indianas para fazer motos de média e pequena cilindrada, em vez de crescer, o segmento se reduziu em torno de 10 %. A BMW teve ótimo crescimento: 40%. Traduz o início da montagem em CKD na Zona Franca de Manaus e redução de preço. Entusiasmou-se e também montará a FX 800R a R$ 38 mil. Entendeu: baixou o preço, as vendas aparecem. A Kawasaki seguiu o caminho, e a Harley-Davidson se estrutura para assumir-se comercial e industrialmente no país.
No legal
Pouco a comemorar. A inspeção de segurança veicular continua sendo selva perigosa, com preços, reprovações, critérios de pouca verificação, mas sempre presente necessidade de ser implantada – porém sem a exploração que hoje motiva a briga pela operação do serviço.
Tento, o Denatran criou cadastro para registrar os veículos que se apresentam a re-call, para ser consultado.
Cultura
Guardiões da história, os Museus tem pouco a festejar neste ano. O Veteran Car Club de Minas Gerais anunciou fazer o seu em Belo Horizonte, mas a idéia não se adensou. No Rio Grande do Sul, o equipamento de maior expressão, o da Ulbra, foi fechado, com acervo vendido. Notícias de Caçapava, SP, dizem da possibilidade da cessão do acervo do fechado Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas à prefeitura municipal, com a responsabilidade de operá-lo.
Em Brasília o Museu do Automóvel, único a preservar a história da indústria nacional enfrenta ação de reintegração de posse pela União. O Ministério dos Transportes quer o bem cuidado espaço para guardar arquivo morto de órgão extinto.
Ainda em Brasília o Batalhão de Logística fez belo resgate histórico do Ford Gálaxie 1976 ex-presidente JK. Restaurado, devolvido ao Memorial JK, resta sem cuidados.
Então,
Ano ótimo, invulgar, de crescimento, fortalecimento, elevada lucratividade para fabricantes, montadoras, importadoras, financeiras. Agora, ao final do ano, o governo federal deu presente à Fiat, com legislação de incentivo pela qual é a única com condições. A marca dividiria operações com fábrica nova no porto pernambucano de Suape.
3 comentários:
Queridos,
O Galaxie 500 de JK é 1974!!! Boas festas e forte abraço.
Dino Dragone
Exmo. Sr. Presidente Dragone, sugiro escrever diretamente ao colunista....muito nos honra sua visita! Volte sempre!
Eu também te amo, Mahar. PERGUNTA: Vc já tem o livro da restauração do JK? Se não, mande o endereço no dinogalaxie@yahoo.com.br q te enviarei 1. Bj
D.
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