O financeiramente saboroso setor dos hatches médios foi enriquecido com o novo Fiat Bravo. Finalmente a marca de Betim acerta em cheio no segmento dos maiores lucros do mercado brasileiro. É aqui onde se localizam os carros de maior valor que podem ter difusão intensa com o poder aquisitivo do brasileiro médio, que compra mesmo é carro de menos de dois litros quando tem uma graninha a mais. Nessa praia nadam de braçada a ilusão Hyundai, os Toyotas inquebráveis e os bonitos Honda de dois e três volumes.
A Fiat tem sido nos últimos anos um fabricante de carros pequenos e de valor acessível às multidões, como atestam as vendas de Uno clássico, Novo e Palio. E o reduzido nível de vendas de um carro mal posicionado em termos de marketing, o quase desconhecido Linea, não foi o grande Salvador da Pátria.
Era hora de fazer algo mais consistente nesse setor. A Fiat veio com tudo. Apresentou um carro bonito, bem acabado, confortável e com o charme de “eu cheguei lá”, o que realmente importa muito nas vendas. Prevejo sucesso no meu Tarô automotivo...
A apresentação foi nos dias turbulentos do Rio de Janeiro, o que impediu o meu costumeiro alongamento de rota nos test drive das fábricas. Mas mesmo assim fiz o dever de casa subindo a Serra da Grota Funda com e sem carga no 1.8 Etorq, o único disponível para venda imediata e ir à rua, já que o T-Jet não está homologado: os modelos no autódromo do Rio não tinham placas. T-Jet só em fevereiro.
Como o tempo foi curto com o Turbo, comecemos por ele. O bom piloto da Bosch fez um monte de gracinhas para demonstrar a eficiência das salvaguardas eletrônicas de Primeiro Mundo instaladas nesse modelo, originais de fábrica. Tem ABS, claro, e mais controle de estabilidade e tração que perdoam qualquer burrice no asfalto. Bom quase tudo porque os limites da Física continuam valendo, e muito. O Turbo é o topo da linha e assim tem todos os brinquedos elétricos e eletrônicos, mas o que impressiona até hoje nossos corações saudosos é o antepassado Stilo com seu sublime motor 2,4 de cinco cilindros, cuja subida de giros e musica de alta rotação ainda me soam aos ouvidos....uma viagem inesquecível a Curitiba....
Mas a marcha do progresso é inevitável e inexorável. Agora temos um motor de um litro a menos que gera quase a mesma potencia e tem torque maior e em menores rotações. Os mais de 24 quilos de torque tem um ajutório precioso no tal do overboost. Eu gosto de tudo que é over em mecânica, e esses detalhe da Fiat não me decepcionou: permite 1,3 Bar de pressão entre 2 e 4 mil RPM, justamente a faixa útil da vida real. Isso o faz um carro lépido, disposto e sempre de faca nos dentes. Pedir aceleração para uma ultrapassagem é brincadeira de criança. E o Bravo mostra que é mesmo: anda de verdade, desmentindo os números de sua cilindrada de 1.400 cc com seus reais 152 cv a toda hora. Para isso muito ajuda a caixa curta de seis marchas, um diamante lapidado pela FPT com grandeza e perfeição. Tem até a ré sincronizada e um comando elogiável que muito contribui para o prazer de dirigir. Sempre há uma marcha pra acelerar, o proverbial Spaniel abanando o rabinho e sempre a fim de brincar. Afinal de contas, para quem não gosta de cambiar há o 1,8 Duologic...
Mas o grito sensual, erótico mesmo e os gemidos felinos do motor antigo, nunca mais... Um tempo que passou.
É claro que ele tem tudo de carro de luxo e mais alguns detalhes como o farol de neblina que acende do lado interno da curva, como as Cadillacs dos anos 60. Uma coisa muito útil á noite, principalmente com chuva. Nesse mundo de cegos do Insulfilm, luz nunca está de sobra. Uma característica interessante é o Hill Holder ou freios de arrancada em subidas: o sistema percebe a situação e segura o carro freiado por dois segundos até que você arranque como um mestre, sem deixar o carro recuar..
A descrição detalhada dos equipamentos está nos dites da Internet, se você quer mesmo saber de tudo, inclusive no da própria Fiat. Uma diferença grande está na altura da carroceria em relação ao stilo. Ele tinha uma coisa UNO de ter teto alto que permitia posição mais alta e ereta dos passageiros. Agora o Bravo é mais baixo, redondo e você senta mais recostado, mas sempre bem acomodado.
Comum a ambos os Bravos é a boa posição de dirigir, com todos os comandos fáceis e bem colocados, inclusive a pedaleira e o cambio. O interior é projetado com elegância e classe, você se sente bem ali dentro. Tudo é agradável ao toque, os bancos são excelentes para ir longe: acolhem o corpo confortavelmente com suas múltiplas regulagens de altura e distancia inclusive do volante acolchoado e gostoso de pegar.
Com o 1.8 fui bem mais longe, como disse. Uma vez com quatro passageiros e outra com dois. Em ambas o Bravo se comportou impecavelmente, sem balanços parasitas. O amortecimento controla bem a carroceria em curvas apertadas de serra, sem movimentos parasitas e dizendo o tempo todo que está tudo bem, mesmo ao piloto menos favorecido pelo conhecimento do domínio de um automóvel. Um carro seguro. Suporta abusos de frenagem sem perder a eficiência, em suma, um carro que honra as tradições italianas da Fiat em fazer carros bons de usar com força e energia. Um carro muito legal que deve vender muito e trazer presença italiana a um segmento que faltava no repertório de Betim.
Bravo, Fiat!
4 comentários:
Zé,
Parabéns aos Josés pela ótima novidade!!!!!
Grande post este do Brava. O que é "mais", o Brava ou o Focus?
Abraços
É Brava ou Bravo? Brava era o antigo, quase um Marea Hatch, né?
Nrporto, é o alemão perturbando...é BRAVO.
É Bravo, e um belo carro. Palava de uma mulher claustrofóbica: ele tem um belo espaço interno e conforto. :)
No cambio automatizado, não se sente as trocas e o carro responde muito bem. Compraria um desses pro nosso trânsito caótico, pois iria confortavelmente e resolveria a questão de vaga e consumo que pertubam meu filhote (um Omega 4.1..rs.. - eu disse que sou claustrofóbica...rs..)
Abraços!
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