Alta Roda nº 757 — Fernando Calmon — 29/10/13
ISSO
É DO JOGO
Está difícil ter uma sinalização clara
sobre o mercado brasileiro neste final de ano e no próximo. O que se sabe é que
o otimismo do começo de 2013 foi se diluindo ao longo do tempo. Analistas do setor
automobilístico se dividem entre os que preveem vendas um pouco menores em
relação a 2012 e um pouco maiores, na soma de automóveis e veículos comerciais
leves/pesados.
Existe algum simbolismo em torno de 2013.
Afinal, seria o décimo ano seguido de crescimento do mercado interno, em parte
alavancado por períodos de diminuição provisória de IPI que levaram a quebras
seguidas de recordes. No recente seminário da Autodata, Perspectivas 2014, em
São Paulo, a média de opiniões indicou sinais de desaceleração, mas não de
queda de mercado. Por outro lado, a produção – importante por sustentar os
empregos da cadeia de valor – deve continuar em ascensão em função de diminuição
de importações e melhora ainda que modesta das exportações.
Um dos temas debatidos, de interesse direto
dos consumidores, foi a mudança em implantação para viabilizar a volta do
leasing, um tipo de financiamento um pouco mais barato e flexível. Até hoje há
insegurança jurídica para que um carro seja retomado de inadimplentes ou lidar
com “espertos” que deixam de pagar impostos e multas de trânsito ao se
aproveitar por o veículo não permanecer em seu nome. Leasing poderá se somar a
outros canais que ajudam na oferta de crédito, sujeita a altos e baixos por
seletividade, exigência de valor de entrada maior ou de taxas de juros.
Há expectativa ainda da manutenção das
atuais alíquotas menores do IPI, pelo menos no primeiro trimestre de 2014. Isso
é dado como certo, o que diminuiria o ímpeto de compra neste final de ano para
escapar de preços maiores. No entanto, a tendência é de que carros de entrada
fiquem mais caros – de R$ 400,00 a R$ 800,00, estima-se –, quando todos os veículos
leves vierem equipados com airbags frontais e freios ABS.
Até março de 2014 será possível adquirir
modelos fabricados sem esses equipamentos de segurança. Depois sua comercialização
ficará proibida. Então, não se descarta que a carga fiscal menor prossiga até
meados do ano. Faltam, em teoria, duas “rodadas” de aumento de IPI. Nos
bastidores, alguns apostam que a última etapa seria cancelada, isto é, alívio definitivo
de parte do imposto.
Na verdade, os preços reais dos veículos,
em geral, mantêm trajetória de queda, especialmente nos últimos cinco anos por
qualquer índice de correção. Sinais de aumento de concorrência continuam
evidentes, embora não se vislumbre guerra comercial, pelo menos em curto prazo.
O governo abriria mão de quase migalha, em termos de alíquota do IPI, como “prêmio”
por preços bem comportados. E faturaria, politicamente, ao amainar a carga
tributária efetiva.
Alguns fabricantes foram menos otimistas que
outros no seminário. Executivos apresentaram visões diferentes em temas espinhosos
como futura capacidade ociosa, promoções e descontos agressivos. Mas, houve também
quem considerasse que tudo isso é do jogo: produção se administra e promoções
vieram para ficar. Consumidor mandar no mercado dever ser regra, não exceção.
RODA VIVA
ESTRATÉGIA de revelar em etapas um carro novo, iniciada pelo EcoSport, será
repetida pela Ford. Novos subcompactos, hatch e sedã, substituirão de uma só
vez o Ka atual e a versão anterior do Fiesta (Rocam), no segundo trimestre de
2014. Bill Ford, presidente do conselho da companhia, estará em Camaçari, dia
11 próximo, para a prévia do Ka hatch (sedã fica para depois).
TOYOTA confia que o novo Corolla, em meados do próximo ano, inovará o
suficiente para recuperar a liderança entre sedãs médio-compactos. Não será inspirado
no modelo para o mercado americano, considerado disruptivo para seus padrões.
Ainda assim terá, pela primeira vez, versão esportivada para encarar o Civic Si,
de volta em 2014.
FUSION híbrido mostrou evolução se comparado ao anterior, além do preço
menor, mais interessante para o porte do carro em relação ao Toyota Prius.
Mesmo com bateria mais potente, não é fácil se manter no modo zero emissão. Exige
condições muito particulares para rodar a 100 km/h só com o motor elétrico. Economia
de combustível aparece, porém leva 5 anos para amortizar a diferença de preço.
MANUTENÇÃO grátis – óleo, filtros e inspeções rápidas – por dois anos ou cerca
de 40.000 km (o que ocorrer primeiro) está em oferta pelas quatro marcas da GM,
nos EUA. Estratégia para aumentar retenção de clientes. Em geral, só marcas
premium, como a BMW, oferecem. Aqui, Chevrolet anunciou plano de financiamento que
inclui despesas com as revisões.
MAIOR rede de concessionárias do Brasil especializada em automóveis e
motos de preço elevado (nove marcas, no total), Eurobike pretende voos mais
altos. Estuda os mercados espanhol e português, com boas oportunidades, depois
de anos de crise. Empresa passou de um faturamento de R$ 25 milhões para R$ 1
bilhão/ano, em uma década.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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