Alta Roda nº 756 — Fernando Calmon — 22/10/13
PICAPE
TAMBÉM INOVA
Algumas peculiaridades do mercado
brasileiro são praticamente únicas no mundo, ao considerar seu porte de quase
quatro milhões de unidades/ano. Uma delas é que cerca de três quartos das vendas
se concentram em modelos compactos entre hatches, sedãs, monovolumes, stations,
SUVs e picapes. E mais: picapes compactas representam expressivos 7% das vendas
totais e oferecerem configurações em cabines simples, estendida e dupla para
uso comercial, particular e misto.
Agora, uma cabine dupla compacta de três
portas torna-se inédita no mundo. Outra inovação da Fiat, que criou esse
segmento no Brasil, em 1978. A Strada, lançada em 1998, lidera o segmento com
50% de participação e chega à quinta reestilização no ano-modelo 2014, esta
semana nas concessionárias. Interessante que na Argentina, a Strada também arrebata
50% deste mercado, embora o Grupo Fiat seja apenas o sexto na soma de
automóveis e comerciais leves, no país vizinho.
Um dos segredos do sucesso dessa picape é a
ampla oferta: três tipos de cabine, três motores (1,4 l; 1,6 l e 1,75 l) e três
versões de acabamento (Working, Trekking e Adventure). Preços vão de R$ 33.750
a R$ 64.337 (fora o teto solar, só em janeiro). A fábrica fez um bom trabalho
de estilo, em particular na lateral e traseira, além de ampliar em 8 cm a
altura da caçamba, que levou a um ganho de volume de 100 a 120 litros em função
do tipo de carroceria. Rivais Saveiro, Montana e Hoggar já tinham caçamba com
esse recurso.
Todas as cabines duplas dispõem de uma
terceira porta lateral, no lado direito, de abertura reversa e sem maçaneta
externa (colocada na parte interna do vão da porta). Solução engenhosa que
eliminou a coluna central e dobrou a área de acesso para 1 m². Para liberar a
entrada atrás é preciso primeiro abrir a porta dianteira, mas o espaço para
pernas continua bem ruim: adequado apenas a crianças ou, eventualmente, a adultos
por pequenas distâncias. No entanto, ficou muito mais fácil colocar objetos
graças à essa porta única traseira.
Trata-se de um projeto robusto,
desenvolvido no centro de engenharia de Betim (MG), que incluiu testes de
colisão lateral. Os reforços acrescentaram até 40 kg de massa ao veículo em
ordem de marcha, mas a fábrica esqueceu de abater esse número da capacidade de
carga líquida, que continua em 650 kg, pela ficha técnica. Interior recebeu um
volante novo para as versões Trekking e Adventure (nesse caso, multifuncional).
Mas o painel continua desatualizado e com saídas centrais de ar-condicionado
mal localizadas.
Ao rodar na versão Adventure cabine dupla,
no litoral da Bahia, com alguns trechos secundários esburacados, deu para
sentir a integridade estrutural da picape. Ausência de ruídos ou rangidos e sem
indicativo de que possam ocorrer pelo acréscimo da terceira porta. Suspensões com
maior altura livre continuam a passar sensação de solidez, sem dureza excessiva
e bom comportamento em curvas. Motor flex de 1,75 l/132 cv e câmbio
automatizado de 5 marchas formam um conjunto ideal para quem não pretende uso
comercial.
Resta aos concorrentes ver o aumento de
vendas da Strada ou partir para uma cabine dupla de quatro portas e maior
espaço interno. Quem se habilita?
RODA VIVA
GRUPO PSA Peugeot Citroën vislumbrou projeto de híbrido a ar com grande
potencial no Brasil. Faz apresentação técnica também ao governo. Tecnologia é simples
e a um custo estimado de apenas mais 10% (de 40% a 50% em híbridos elétricos). Todos
os espaços originais, em compacto como o C3, são preservados e economia de
combustível pode chegar a 45%. Previsão de mercado, 2016, mas procura parceiros
de outras marcas.
EXECUTIVO-chefe mundial da Bosch, Volkmar Denner, em visita ao Brasil, prevê
que haverá crescente aplicação de turbocompressores em motores de ciclo Otto
com cilindrada reduzida (downsizing)
em quase todos os mercados. Para ele, produção em massa ajudará a diminuir custos,
inclusive no País. Mas, ainda não tem planos de produção local.
GOLF VII alemão, lançado aqui mês passado e fabricação prevista no
Paraná em até dois anos, é um dos bons exemplos de aplicação de
turbocompressor. Seu motor de 1,4 l/140 cv impressiona pelo desempenho em
acelerações, nitidamente mais rápidas que outros do segmento, graças aos 25,5
kgf∙m de torque de 1.500 a 3.500 rpm. Agrada ainda pela solidez, acabamento e
dirigibilidade.
HYUNDAI ix35 é produzido em Anápolis (GO) desde setembro, mas só agora o
Grupo CAOA mostrou os investimentos na fábrica, com alguns robôs. Preço não se
alterou: R$ 94,9 mil. Aliás, modelos hoje importados, a serem fabricados aqui
mais adiante, já estão “precificados”, no jargão do mundo econômico. Se não,
quem os compraria agora?
CORTE nos preços dos Hyundai i30 e sua versão sedã, Elantra, refletiu condições
de mercado pela forte precificação do novo Golf, vendido desde já por preço de
carro nacional, mesmo pagando imposto de importado. No caso dos modelos
sul-coreanos, há um pormenor: maior parte do desconto foi bancado pela
valorização recente do real frente ao dólar, em torno de 11%.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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