Alta Roda nº 717 — Fernando Calmon — 22/1/13
QUEM
PAGA A CONTA
Salões de automóveis sobem seu astral
quando refletem recuperação de vendas e produção. Essa atmosfera positiva marca
o Salão de Detroit que se encerra neste domingo. Afinal, o mercado está em
franca expansão (13% em 2012), embora as marcas locais, à exceção da Jeep,
continuem patinando na preferência do consumidor.
Simbolismo do Corvette Stingray, em sua
sétima geração, ajuda a levantar autoestima da Chevrolet. Todo novo, herda
características de marcas alemãs como câmbio manual de sete marcas (até agora só
no Porsche 911) e distribuição de peso de exatos 50% em cada eixo (ponto de
honra da BMW).
No outro extremo, a picape pesada Silverado
reformada coloca pressão sobre a arquirrival série F, da Ford. A reação veio da
picape conceitual Atlas, visão antecipada da nova F-150, em 2014. Houve
comentários de que a empresa ousou na estratégia e talvez se reflita nas vendas
do modelo atual.
Leves reestilizações do Grand Chrerokee e Compass,
acompanhadas de versões diesel e câmbio automático convencional no lugar do CVT
(no final do ano, aqui), continuam a animar a Jeep.
Essa edição do salão está mais atraente
para o mercado brasileiro. O SUV-conceito compacto da Honda sobre arquitetura
do Fit e a bem-vinda reinvenção estilística do Corolla, batizada pela Toyota de
Fúria (interior não exibido), antecipam o que será também produzido aqui, em
2014/15.
Outra novidade está fora do Salão, mas
mostrado a jornalistas na véspera do dia de imprensa. Mercedes-Benz CLA, sedã
compacto anabolizado com base nos Classes A e B, além de carro mais
aerodinâmico do mundo (Cx incrível de 0,22), deverá abrir a produção no Brasil.
Falta a empresa alemã bater o martelo, mas Dieter Zetsche, principal executivo
mundial, admitiu ser mais viável um acordo com a Nissan, na fábrica em
construção de Resende (RJ).
Graças ao previsto crescimento, nos
próximos anos, do mercado brasileiro de marcas refinadas, esta edição do salão
merece um olhar mais atento. Acura e Infiniti têm novidades: SUV médio MDX e
novo sedã Q50, respectivamente. Cadillac, até como reação ao maior número de concorrentes,
é considerada marca de importação certa pela GM. E o médio-grande ATS, de
tração traseira ou 4x4 e menor Cadillac em dimensões, mostra apelo visual digno
dos europeus, o que atrai por aqui.
Entre outras novidades conceituais,
destacam-se o Volkswagen Cross Blue e o Hyundai HCD-14. O primeiro, um
crossover híbrido diesel de sete lugares (no salão, versão de seis lugares),
específico para o mercado local, com preço entre Tiguan e Touareg. O projeto
será ainda aperfeiçoado para provável produção ao lado do Passat americano. O
segundo é a visão do futuro sedã de topo coreano, Genesis, com portas traseiras
“suicidas” à Rolls-Royce. Versão final deve ousar menos.
Balanço positivo do salão não impede
constatar, mais uma vez, que fabricantes parecem bem mais empolgados com soluções
alternativas do que compradores. Elétricos puros, híbridos e Diesel, tudo
somado, representam apenas 3% das vendas totais nos EUA. Embora tenda a
crescer, na realidade poucos querem pagar a conta. E, para complicar, motores
convencionais têm mostrado queda de consumo de combustível, a preço que todos
suportam.
RODA VIVA
COTAS de produtos mexicanos ainda amarram planos de importação. SUV
compacto Chevrolet Trax (aqui se chamará Tracker) virá para atrapalhar a vida
de EcoSport e Duster, porém falta definir de que forma Sonic será
“prejudicado”. Volta da Alfa Romeo ainda está condicionada, pela Fiat, à
avaliação de cotas previstas no regime Inovar-Auto. Nada confirmado.
FLUENCE GT, sedã discreto, ao
menos faz jus à sigla, ao contrário do Sandero da própria Renault. Motor turbo
de dois litros, 180 cv, coloca-se em desempenho entre Peugeot 308 THP e Jetta
TSI, na faixa dos R$ 80 mil, mas sem câmbio automático. Bom trabalho de
engenharia na suspensão. Faltam coisas simples: um-toque nas alavancas de
limpador e setas.
MESMO sem confirmação pela GM, importação do novo Malibu é certa, depois
da desistência do Omega. Chevrolet concorrente direto do mexicano Fusion, impostos
refletem no seu preço (vem dos EUA, sem isenções). Retoques externos e internos
e motor um pouco mais potente agradam, em breve avaliação. Banco traseiro,
baixo demais, será mudado até meados do ano.
ENQUANTO a taxa cambial ajudou, alguns modelos nacionais foram competitivos
até em países avançados do Hemisfério Norte. Destaque para o Fox, com 305.000
unidades, maior volume já exportado de um automóvel brasileiro para a Europa
(2005-2012). Voyage, nos anos 1980, teve 202.000 unidades vendidas nos EUA e
Canadá, feito para época.
SAIU lista dos 10 mais vendidos na Europa, em 2012, segundo pesquisa da
consultoria inglesa Jato: Golf, Fiesta, Polo, Corsa, Clio, Focus, Astra,
Qashqai (Nissan), Mégane e Passat. Crossover da Nissan é o único a nunca
aparecer por aqui. Os outros, em diferentes gerações, foram produzidos e/ou
importados, nomes familiares aos brasileiros.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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