Alta Roda nº 650 — Fernando Calmon — 11/10/11
DUSTER LEVANTA POEIRA
Finalmente, teremos uma luta boa entre utilitários esporte (SUV, em inglês) de preço menor. Este subsegmento foi desbravado pela Ford com o EcoSport, em 2003, até hoje encastelado na liderança. No ano 2000, venderam-se apenas 13.600 unidades de apelo aventureiro – verdadeiro ou apenas sugestivo; em 2010, nada menos que 217.000 veículos, crescimento de 1.500% para o segmento inteiro, com preços entre R$ 50.000 e R$ 500.000.
A dificuldade de outros fabricantes era antecipar certas modificações no projeto básico de um veículo compacto, tração dianteira, de tal forma a permitir uma carroceria típica de utilitário com ares urbanos. A Renault, agora, vem com o Duster e será seguida por Chevrolet e Hyundai. O jipinho romeno Dacia, marca do grupo francês, lançado em março de 2010 na Europa, chega aqui apenas 19 meses depois. Fabricado em São José dos Pinhais (PR) tem índice de nacionalização inicial de 67%, mas chegará a 75%.
Uma equipe de mais 600 engenheiros no Brasil, além de um centro de desenho, implantou 774 alterações no projeto original. Em parte para amenizar o estilo meio rústico do modelo original e fazer melhorias internas, a exemplo do painel frontal e console de teto. O Duster utiliza a mesma arquitetura do Logan/Sandero, com distância entre-eixos generosa de 2,67 m e bastante espaço no banco traseiro. Os três modelos subverteram conceitos: custo de produção de compacto e tamanho de médio-compacto.
Aliás, preço é uma vantagem evidente. Partindo de R$ 50.900 (tração 4x2, motor 1,6 flex/115 cv), chega a R$ 64.600, curiosamente, igual para a versão 4x4, motor flex 2 litros/142 cv, câmbio manual de 6 marchas e para o 4x2, mesmo motor, câmbio automático de quatro marchas. O Duster não possui estepe externo – elogiável, como no Honda CR-V –, o que ajudou nos custos, peso, consumo de combustível e aerodinâmica. Há diminuição no volume do porta-malas, 4x2 (475 litros) e 4x4 (400 litros), pois nessa o estepe fica na parte interna do assoalho.
Dinamicamente o motor mais fraco sofre um pouco para lidar com os mais de 1.200 kg. Mas apresenta bom comportamento em estradas asfaltadas, apesar de 21 cm de vão livre e altura total de 1,69 m. O câmbio, bem curto, aumenta o nível de ruído do motor.
Interessante a Renault ter optado por características marcantes para uso leve ou fora de estrada. Na versão 4x4 por demanda há bloqueio manual de 50% de tração em cada eixo. O carro vai bem em terra e atoleiros, ajudado pelo motor de 2 litros (agora com taxa de compressão alta de 11,2:1, ideal para etanol) e um câmbio manual de primeira curtíssima. Na versão 4x2, automática, o motor mais forte quase sussurra a 100 km/h constantes.
Os planos são de vender 2.500 unidades/mês, o que faria a Renault se aproximar de 6% de participação anual de mercado, já em 2012. Para tal, anunciou investimento de R$ 500 milhões a fim de aumentar a produção em 100.000 veículos/ano, na prática uma fábrica nova nas instalações atuais.
Carlos Ghosn, presidente da aliança Renault-Nissan, espera que em cinco anos a marca francesa tenha 8% do mercado e a japonesa – do alto de R$ 2,6 bilhões para unidade fabril nova em Resende (RJ) – alcance 5%.
Conjunto motor-câmbio é o ponto alto dessa nova geração do Fiesta: direção elétrica bem calibrada, motor flex 1,6/115 cv e suspensões de acerto fino. Ford acredita que o poder aquisitivo em alta vai valorizar modelos mais elaborados, nos próximos anos. O hatch será produzido em Camaçari (BA), no final de 2012, mas o sedã poderá continuar vindo apenas do México.
Mercado em setembro caiu em relação a agosto por ter menos dois dias úteis. Porém, a média diária de vendas – 14.840 veículos de todos os tipos – não foi ruim: 4,2% a mais do que o mês anterior. No acumulado do ano, 2011 ainda supera 2010 em 7,2%. Sinalizações desconfortáveis (para 2012) são inadimplência em leve alta e índice de confiança em discreta baixa.
Cenário econômico mais difícil significa que a competição acirrada está segurando preços, independentemente do aumento de imposto para modelos de fora do Mercosul e México. Chinesas JAC e Chery confirmaram suas fábricas no Brasil, apesar de se queixarem do “protecionismo descabido”. Segundo Carlos Ghosn, nacionalização obrigatória na China é de 90% e no Brasil, 65%.
Jornal alemão de negócios Handelsblatt confirmou o que a coluna antecipou há dois meses: BMW terá fábrica no Brasil. Segundo a publicação, a ser instalada na Grande São Paulo e a anunciar em dezembro. Novo regime automobilístico exigirá investimentos de peso para maior conteúdo local.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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