Alta Roda nº 772 —
Fernando Calmon —
18/2/14
INTERESSES
EM JOGO
Segurança no trânsito pode ser abordada por
vários aspectos e pelo menos três estão na ordem do dia. O mais estranho é essa
espécie de rebelião na Câmara dos Deputados que, de repente, resolveu trazer
para discussões em regime de urgência um projeto que dispensa as autoescolas de
instalação obrigatória de simuladores de direção. A iniciativa assemelha-se à
mobilização, 15 anos atrás, que extinguiu a exigência de kit de primeiros socorros
em todos os veículos. De fato, era uma proposta mal elaborada e, pior, mal executada
pela má qualidade do kit.
Não parece ser o caso dos simuladores,
quando se sabe do baixo nível de eficiência dos agora chamados pomposamente de centros
de formação de condutores (CFC). Trata-se de um equipamento útil cujo maior
“pecado” é aumentar em até 20% o custo para o candidato a motorista, como se
isso fosse algum impeditivo frente ao preço de qualquer veículo. A ideia foi do
Contran que, inclusive, mostrou pesquisa nos EUA em que o uso do simulador pode
reduzir em 50% os acidentes nos dois primeiros anos após a habilitação do
motorista.
Esta celeuma já levou ao adiamento por seis
meses da obrigatoriedade, pois só há, por enquanto, quatro fornecedores para
milhares de CFCs. Bom lembrar que muitos países permitem que o candidato a
motorista, a partir de 16 anos, dirija acompanhado por um maior de 25 anos já
habilitado. Dessa forma, quando o jovem atingir os 18 anos terá se sujeitado a
muitas situações reais de trânsito e o aprendizado será melhor, mesmo com a obrigação
de frequentar depois a autoescola oficial. Como isso (ainda) não é possível no
Brasil, o simulador ajuda no processo de tornar o trânsito mais seguro.
Outro programa útil que, afinal, começa a
sair da longa preparação é o Siniav, Sistema Nacional de Identificação
Automática de Veículos. Pela primeira vez se tornará possível conhecer e controlar
a verdadeira frota brasileira, pois carros novos e usados terão etiquetas
eletrônicas em curto prazo. A iniciativa vai bem além de apenas facilitar os
que pagam impostos em dia. Há várias aplicações em mobilidade urbana, gestão do
trânsito, integração de planejamento e informações entre os três níveis de
governo, controle de veículos clonados e roubados, além de possível utilização
em pedágios, estacionamentos públicos e garagens particulares.
E, finalmente, parece que dessa vez se aprovará
uma lei nacional (sem risco de vetos do Executivo) de regulamentação severa dos
desmanches – ou mesmo depósitos sem controle – de veículos sinistrados ou
aposentados por “invalidez total”. É fundamental para diminuir roubos de
veículos. Também ponto de partida para as essenciais ações de reciclagem –
embrião de qualquer programa de renovação de frota – e o aproveitamento
racional de peças usadas.
O que preocupa é certa condescendência do
projeto em nível federal. Em São Paulo, vigora desde o mês passado lei estadual
mais rigorosa e restritiva quanto a desvios e punições. Em vez de se aproveitar
os esforços de quem já se aprofundou (inclusive por ter a maior frota veicular
do País), trata-se de se flexibilizar as interpretações quanto a componentes
ligados à segurança que não podem ser reciclados ou revendidos.
RODA VIVA
RENAULT atiça seus planos para o Brasil. Além da picape leve derivada do
Duster, já confirmada, empresa admite que entrará na faixa dos subcompactos
mais baratos. Projeto nasceu em parceria com a indiana Bajaj, mas a versão
brasileira será de nível superior. Essa faixa, hoje, representa 8% do mercado e
em quatro anos poderá significar 16%.
NÃO será apenas a diretoria da Toyota que sairá de São Paulo, em breve,
de volta à sede histórica, em São Bernardo do Campo (SP). Há planos de produzir
nas instalações do município vizinho o híbrido Prius. O governo deve conceder isenções
para sua importação, mas induzirá a montagem do carro no Brasil em baixa
escala.
VENDAS mundiais de 83,5 milhões de veículos leves e pesados bateram novo
recorde no ano passado. Aumento de 5% abala essa história de ruas saturadas como
desculpa pelos males do trânsito mal administrado. Ranking dos dez maiores
mercados é o mesmo de 2012: China, EUA, Japão, Brasil, Alemanha, Índia, Rússia,
Reino Unido, França e Canadá.
NESTA terça-feira os dois Suzuki Jimny da fábrica, que iniciaram a
maratona de 100.000 quilômetros em 100 dias, atingiram 17.775 quilômetros
rodados em 13 dias. Poucos incidentes, além de pedras nos para-brisas. Há 50
anos, um Gordini da fábrica completou 51.233 km em 21 dias, rodando sem parar (exceto
para revisões) no autódromo de Interlagos.
GOVERNO chinês pretende liberar fábricas estrangeiras para atuar livremente
no país. Hoje estão obrigadas a ter um sócio chinês com 50% de participação de
capital. Decisão deve levar ao desaparecimento da maioria das marcas 100%
chinesas. Sobreviveriam apenas as mais fortes, que teriam de aumentar qualidade,
investir em marketing e redes de concessionárias.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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