Alta Roda nº 761 — Fernando Calmon — 26/11/13
SOLUÇÕES
DE DIVÃ
Um dos temas recorrentes nos últimos tempos
são as análises sobre a diminuição de interesse das pessoas pelo automóvel, em
especial os jovens. Há muito lirismo nesses diagnósticos, às vezes baseados em
pesquisas cujas perguntas são direcionadas para as respostas.
Bastam dois exemplos: em São Paulo apontaram
que 90% das pessoas apoiam a inspeção veicular ambiental (IVA). A surpresa foi
não alcançar 100%, como deveria. Mas se a pergunta fosse sobre IVA para carros seminovos,
com até quatro anos de uso, o resultado seria 10%. Também quiseram saber se os
motoristas aprovam faixas exclusivas de ônibus. Claro, disse a pesquisa. Mas se
perguntassem só sobre pintar faixa no asfalto, sem qualquer estudo de
custo-benefício ou em que lado da via, o resultado seria decerto bem diferente.
Outra enquete famosa feita nos EUA aponta
que 30% dos jovens entre 18 e 24 anos preferiam, se pudessem escolher, a
internet e não um carro. Ora, faltou saber, em plena era dos carros conectados
talvez até em excesso (digitar textos com o carro em movimento é muito
arriscado), se as respostas seriam as mesmas caso pudessem dispor de ambos.
Existe, sim, o fenômeno social de algum afastamento inicial dos jovens ao
buscarem maior mobilidade urbana ou utilizar caronas de pais, parentes e
amigos. Mas logo casam, formam família e vem um carro, muitas vezes dois.
Há um fato inquestionável: mercados maduros
estão saturados e a frota quase não cresce. Nem a população... Produção basicamente
voltada para substituição. Situação oposta nos países emergentes, onde a
relação de veículos/1.000 habitantes é bastante baixa. Se indagassem a qualquer
jovem destes países, a resposta seria outra. Uma aspiração justa e até
concorrente da casa própria.
De fato, longos congestionamentos podem
levar a se questionar a utilidade de um automóvel. Mas esquecem de que rádios do
passado com válvulas e chiados, para amenizar, foram substituídos por quase estúdios
ambulantes de som, vídeo, telefonia, navegação por internet e GPS, além de TV
(quando parado). A baixa mobilidade não é apenas urbana. No último feriado percorrer
trechos de 100 km em 9 horas ou mais aconteceu em várias estradas.
Trata-se de uma situação que poetas de soluções
simplistas deveriam estar mais atentos. Um carro no portão da fábrica paga 67%
de impostos (cerca de 40% do preço de venda) até ser emplacado. Depois, a cada
cinco anos, há tantas taxas e encargos que significam entregar outro carro novo
ao governo. Então, ninguém pode ter sentimento de culpa ao se construir túnel,
viaduto, via expressa ou duplicar estrada. Os motoristas, com paciência de
bovinos, pagaram por tudo isso. Seu único direito é bancar sem reclamar?
No futuro, parece claro que cidades terão
alternativas de mobilidade inteligente e integradas. Automóveis serão menos
necessários, mas ainda indispensáveis, principalmente pela liberdade de viajar.
Única forma de se locomover ponto a ponto com um único meio de transporte. Diversos
aspectos deverão ser repensados para evitar recorrência de erros de
planejamento. Outras soluções vêm daqueles acostumados aos divãs de
consultórios de terapeutas extremamente compreensivos e mais pacientes que os próprios
pacientes.
RODA VIVA
INESPERADA contratação do português Carlos Tavares para presidir PSA Peugeot
Citroën pode não ter sido tão inesperada assim. Há dois meses, ainda o segundo
nome na hierarquia da Renault, surpreendeu ao dizer que gostaria de comandar um
grande fabricante dos EUA. Chocante, mas provável cortina de fumaça para acerto
prévio com a arquirrival francesa.
MOVIMENTO discreto da Volkswagen já começou: abrir espaço ao compacto up! no
primeiro trimestre de 2014. Estratégia é elevar um pouco o preço do Gol G5, com
airbags e ABS de série (obrigatórios), além de direção assistida hidráulica,
para deixar a faixa inicial dos R$ 29.000 para o novo produto. Gol G4 sai de
produção em dezembro; vendas até março.
VERSÃO Titanium do Focus hatch tem preço puxado, com todos os
equipamentos. Forma conjunto de primeira linha, ainda raro entre os produzidos
na região (Argentina). Motor tem respostas rápidas, especialmente com etanol,
graças à injeção direta. Câmbio automatizado de duas embreagens, direção,
suspensões e acabamento são irretocáveis.
MODELO de uma fábrica homenageado por outra é bastante incomum. Como o
laureado está entre os míticos da história, a MINI (controlada pela BMW) destacou
os 50 anos do Porsche 911. Há fotos, lado a lado, das versões originais realçando
que só “rejuvenesceram”. De fato, não concorrem entre si, mas a iniciativa é
simpática.
CAIXA de câmbio manual com marcha à ré sincronizada era algo refinado no
passado, como no Omega em 1992. Agora a GM estendeu essa característica a todos
os carros compactos com motor de 1,4 litro aqui fabricados. A nova caixa facilita
e agiliza manobras em baixa velocidade, quando é necessário inverter o sentido
de marcha, sem parecer “barbeiro” ou descuidado.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/
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