Alta Roda nº 760 — Fernando Calmon — 19/11/13
REVERSÃO
DO QUADRO
Cenário cada vez mais desafiador está
previsto no mercado interno de veículos para 2014 e os próximos anos.
Desafiador costuma ser o sofisma usado no mundo dos negócios, quando se quer
dizer que a situação pode piorar muito. Especificamente, o risco de uma guerra
de preços ou, no mínimo, forte contração das margens de comercialização. Como
alguns acreditavam – e até continuam a acreditar – que essas margens explicavam
os preços altos praticados internamente, talvez revejam esses conceitos.
Em primeiro lugar, a desvalorização do real
frente ao dólar, e em especial ao euro, colocou algumas coisas em seus devidos lugares,
ao se compararem tabelas aqui e no exterior. Por outro lado, cerca de 50 marcas
que produzem ou vão produzir no Brasil, além das importadas por vocação ou por
oportunismo, estão em disputa feroz. Há uma reviravolta em curso com a decisão
de fabricação local de modelos premium, nas faixas inferiores de preço. Quem
compra agora os atuais carros nacionais de topo certamente se sentirão
estimulados a subir um degrau graças à oferta diversificada e mais em conta. No
mínimo pode considerar a possível manutenção rápida e peças algo menos caras.
Marcas premium verdadeiras e as que pegam carona
no conceito representam por volta de 1,5% do mercado brasileiro. Em outros
países de poder aquisitivo semelhante, o percentual situa-se entre 3% e 5%. Assim,
triplicar as vendas desse segmento, nos próximos quatro anos, é previsão
aceitável. E a concorrência continuará intensa.
Essa coluna já apontou o preço do Golf 7, por
enquanto importado da Alemanha, como sendo fortemente subsidiado. Mas como o
modelo será produzido no Paraná, poderia se justificar, em parte. Outro exemplo
recente: Nissan Altima. Este não se fabricará aqui e custa menos de R$ 100.000.
Seu preço nos EUA, onde é feito, na versão completa, está em torno de US$ 30
mil. Ao agregar a diferença de impostos (já desconsiderada taxação adicional do
Inovar-Auto) e custos elevados de comercialização, teria que ser vendido aqui
em torno de R$ 140 mil. Claro, trata-se de importação estratégica e em pequenos
volumes, porém indicador da forte concorrência. Esses subsídios indicam que não
haverá queda súbita de preços, como acontece em alguns casos.
Para se ter ideia da alta participação de
impostos e de deficiências internas do País basta ver a etiqueta do
Mercedes-Benz Classe S, topo de linha da marca alemã. Custa aqui, em dólares, o
dobro do valor de venda no varejo dos EUA. Nesse caso inexiste subsídio, pois
se aloja no nicho do nicho de interessados.
Promoções e políticas de desconto refletem
ciclos. A cada onda de preços no alto são atraídos novos atores ao mercado e se
inicia um ciclo de baixa. Sempre tendo como referência o nível real, isto é,
considerada a correção inflacionária. Concessionárias de veículos no Brasil
precisarão enfrentar uma realidade diferente e nada fácil de reverter. Em
outros países há margens menores nos veículos zero-km e maiores em seminovos e
usados, produtos financeiros (seguros e financiamentos) e serviços de pós-venda
(acessórios, peças e manutenção). Se os fabricantes não ajudarem a reverter
esse quadro, nenhum sofisma disfarçará esse complicador.
RODA VIVA
CONFORME previsto pela coluna, o protótipo (quase pronto) do Ka, exibido
semana passada na Bahia, não é subcompacto. Trata-se de um compacto curto, na
mesma arquitetura do New Fiesta, a ser lançado em meados do segundo trimestre
de 2014. Ford talvez ofereça só uma versão pouco abaixo de R$ 30.000 (depende
do IPI), pois será bem equipado e com ênfase na conectividade.
VERSÃO sedã do novo Ka chegará seis meses depois. Bill Ford, presidente do
conselho da empresa, confirmou que o projeto desenvolvido em Camaçari,
interagindo com outras filiais, não se restringirá a países emergentes. Além do
novo motor de 3 cilindros/1 litro (potência de 82 cv/etanol), oferecerá
componentes como ar-condicionado de última geração.
ALGUNS equipamentos de ponta do Mercedes-Benz S 500 L (entre-eixos longo),
que chega em dezembro, só estarão disponíveis depois de testes adicionais no
Brasil. Um deles é a inédita câmera estéreo no para-brisa. Ela permite
vislumbrar irregularidades na pavimentação – fartas por aqui – e pré-ajustar a
suspensão pneumática para o que der e vier.
ADIADO por 18 meses, para julho de 2015, oferta exclusiva de gasolina aditivada.
ANP exigiu que a Petrobras, monopolista em combustíveis, não repassasse para as
distribuidoras essa obrigação. A empresa, estimulada pelo Ministério das Minas
e Energia, propõe ainda misturar gasolina de baixa qualidade ao etanol (E85). Seria
desastroso por facilitar fraudes e outros problemas.
LANÇADO pela TomTom serviço de informações de trânsito em tempo real para
ruas e estradas no Brasil. Já disponível em 33 países, Traffic é um sistema
sofisticado de referência de localização dinâmica, em padrão de código aberto
para navegação e cartografia, além de colaborativo. Refaz rotas em função dos
engarrafamentos, mas aparelhos só chegam no início de 2014.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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