quarta-feira, 30 de novembro de 2011

EU E AS ALFA ROMEO


meu carro era assim, branco

Desde garoto que curto Alfa Romeo. A culpa foi do General, o pai do Zeca Diniz, que tinha um 2150 1970 impecável, comprado em uma programa da FNM para militares e funcionários públicos. Era azul marinho com interior preto, bancos individuais e o saudoso Luigi Ciai vendeu a General um volante Hellebore de alumínio e aro de madeira, bem semelhante aos imortais Nardi… e um dia o General, vendo a afissuração juvenil do infante Mahar aos 20 anos, me deixou dirigir o belo carro. Foi ai que o pequeno Mahar confirmou o que já começava a desconfiar: que havia vida e prazer for a dos americanos tão que ridos de Papai Mahar… Parece que foi ontem, como diria Charles Aznavour, que eu tinha 20 anos e a direção pesada não me incomodava – era muito grande e forte - e a impressão ficou para sempre. Uns meses depois, ou um ano, não sei, fomos visitar em um Tarde Técnica um velho mecânico no pé da serra de Petrópolis, o Mestre Basílio. Antigo chefe de mecânica do Reparto Corse da FNM, o velho Basílio com seu ar de Merlin me matou: apresentou o cara que fez em Xerém a primeira cara baixa do TIMB em 1966, Elio Dumovich.


Elio tinha uma filha LINDA de enfartar e um 2150L 1970 branco à venda por um preço razoável, o que me deu borboletas no estômago. Várias noites sem dormir depois de andar no carro do Elio convenci Mamãe Mahar a ajudar, vendi a Fusquetta pra ela – golpe sujo pra manter o 1300 por perto, que o paranóico vive mais – e comprei o JK! Foi um dos primeiros momentos Vital e sua moto da minha vida…
O carro era impecável, mas apesar de ter sido montado na linha de produção pelo Elio himself, em poucos meses começou a enferrujar a sério. Assim eram os carros do passado no Patropi… Arranjei uma garantia, levei pro Mario Olivetti em Petrópolis e lanternei o carro todo, dessa vez usando primer marítimo no cavername por baixo do carro. Foi aí que arrumei uma namorada na embaixada da Suíça. Martine não era a última Coca Cola do deserto com sua sólida formação luterana e o pé no freio o tempo todo apesar de bem jeitosa e arrumadinha, mas o primo dela, ai, o primo dela corria Rally de Alfa na Suíça!


Isso imediatamente a tornou um avião liberal, pois tinha acesso ao malote diplomático. Foi um tal de coletor de escapamento, dupla Weber 40, comando Autodelta que deixavam de cabelo em pé os rapazes de pinhos de renda da embaixada… foi assim que fiz um 2200 cm³ com Carlinhos Bravo, o brilhante Chefe de oficina da Olivetti. Andava com Opala 3800 fácil, fechava mais de 190 de final e quebrava furiosamente. Coisas do tipo pegar fogo na bateria, furar radiador no centro da cidade, bater biela pelo menos uma vez apesar de óleo novo – sete litros - a cada 2500 km. Claro que teve um volante Hellebore como o carro do General, o que tornava necessária força bruta em baixa velocidade, mas eu tenho até hoje 1,85m e mais de 100 quilos ainda, então no problem…


E viajamos felizes sem medo de acelerar por uns dois ou três anos, até que o irmão do Lula trouxe uma Honda CB 350 1972 de Manaus e a casa caiu. Fascinado pelos encantos de algo quente e vibrante no meio das pernas (Uma Moto, claro!) comecei a ficar nervoso, inquieto e agitado. Não tinha chegado a tremer e babar (ainda) quando a Jota queimou um sensor de pressão de óleo em uma investida noturna pelas serras de Petrópolis e Teresópolis praticando no Inverno o que Mestre Basílio tinha ensinado no seu quintal ali mesmo. No outro dia de manhã cedo estava na porta da Victori, o concessionário Alfa Romeo de Botafogo. Trocava afissurado a cebolinha da pressão de óleo quando senti um olhar por cima do ombro, fixado nos filtros Silvano Pozzi, nos cabeçotes polidos, no coletor de escape duplo 4X2.

Quando liguei o motor pra ver se tinha pressão, que graças a Deus e a San Gennaro permanecia feliz. O cara não resistiu e fez a pergunta de um milhão de dólares: Você vende esse carro? A resposta, depois de saber que ele tinha o 64 impecável ao lado do meu foi: vamos dar uma volta e depois falamos de valor. Isso matou o cara. Pedi um preço alto mas quando ele viu que o carro era um outro bicho, muito mais veloz e potente que o dele, coitado, não teve nenhuma chance. Levou o carro para Campos dos Goytacazes e o tem parece que até hoje, quase 35 anos depois. Semana qu8e vem tem mais Alfa. Tive um fim de semana de Cuore Sportivo na Igreja do Bispo Robson Cotta, em Betim e tem muita coisa a pra contar sobre a minha Giulia Super e sobre a última Alfa. Não toque esse dial! Inté!

CRONICA PUBLICADA NA REVISTA WEBMOTORS NA COLUNA A VOZ DO ASFALTO...

6 comentários:

Anônimo disse...

Grande Mahar !!! Adorei seu relato; nem sei se vc se lembra, mas quando vc e meu pai se conheceram, entre o final dos anos 1970 e início dos 80, ele tinha um Alfa Romeo 2300 dourado, bancos de couro bege, um luxo total pra época ... Aquele foi o meu primeiro carro; era o máximo, mesmo !!! mas meio parecido com o que vc escreveu, pelas razões que ninguém entendia ainda, fiz uma troca RIDÍCULA, por uma Kombi clipper ... novinha ? claro que não, era muito, muito cansada ... motivo ? levar as motos pra correr no autódromo. Infelizmente, só algum tempo depois é que fui conhecer o nosso amigo Miguel, que tinha mandado fabricar um reboque sensacional de 3 motos, que deixava a gente subir a Serra de Petrópolis como se não tivesse reboque !!! Abração do seu discípulo "paulista" Carlos Paiva.

Mania de pensar disse...

Excelente Mahar, eu mesmo náo teria conseguido me expressar melhor

1k2 disse...

Grande Mahar,

Adorei esse texto. Leve e divertido como deve ser. Como diria o zumbi de "A volta dos mortos vivos" no rádio da ambulância: traga mais memórias...

Sallorenzo Luz Imagem disse...

Mahar
VoCê conheceu meu Alfa 2200 cinza. Um dia estava chegando no Milan, na Gloria, e mal estacionei e vocE veio correndo junto com o Rubinho.
Mas o carro estava muito doente. Suspensão travada, parte elétrica, lataria (putz tudo enferrujado). Pior de tudo é que eu só era apaixonado pelo carro e não sabia como, nem tinha grana para consertar/conservar.
Acabei vendendo, graças a Deus, para o Fred Sutter(jornalista, mas o carro estava muito enferrujado. Depois de desmontado ele também se
desfez. Mas o motor era impecavel.

RUANN MACHADO disse...

Mahar, Meu Pai teve um 2150 71 Marron escuro,tenho muitas saudades daquele carro,pois foi nele que aprendi a dirigir !

Opps! disse...

Eu gosto das Alfas...
Mal posso esperar pelo relato da sua Giulia Super !
Abracos