Alta Roda nº 655 — Fernando Calmon — 15/11/11
APOSTA NO FUTURO
A Renault cumpriu a promessa do seu executivo-chefe, Carlos Ghosn, e acaba de colocar à venda, na França e na Espanha, o primeiro sedã elétrico dos tempos modernos. Apresentado no Salão de Frankfurt de 2009, o Fluence Z.E. (emissão zero, em várias línguas) abre uma alternativa em termos de conforto interno para cinco passageiros e certo nível de representação pelo porte do carro. As ofertas até agora se resumiam ao pioneiro minicarro Mitsubishi i-MiEV, seguido pelo hatch médio-compacto Nissan Leaf.
A aliança Renault-Nissan fez uma aposta alta – US$ 5,5 bilhões – na tração puramente elétrica, sem passagem por híbridos (a marca japonesa tem poucos modelos desse tipo; a francesa, nenhum). O Fluence Z.E. inaugura uma fórmula interessante de comercialização: preço de 25.900 euros (R$ 62.400) igual ao do modelo a diesel, sem a bateria de íons de lítio de 398 V/22 kWh. Uma bateria desse tipo custa mais que o carro. Neste caso, o comprador paga um aluguel à parte de apenas 88 euros (R$ 211) durante 36 meses, incentivo pesado do fabricante. Países europeus acrescentam até 5.000 euros (R$ 12.000) de subsídio direto para número limitado de vendas.
Certos mitos podem ser desconsiderados como efeito memória na bateria ou o uso dos faróis diminuir autonomia. A Renault foi cautelosa ao especificar a autonomia, de 80 a 200 km, dependendo de vários fatores. O tempo de recarga pode ser de 7 ou de 22 horas, em função da instalação e tensão local (220 ou 110 V). Nenhuma emissão de poluentes tóxicos acontece enquanto roda, um alívio para as cidades, onde as distâncias médias diárias percorridas ficam em torno de 50 km e o para-e-anda até ajuda a recarregar a bateria.
Há outro lado da questão, ao considerar o CO2 (principal gás de efeito estufa) na geração de eletricidade. Se for de fonte renovável (hidráulica, eólica) ou de origem nuclear, as emissões ficam em torno do equivalente a 15 g/km, contra 120 g/km de um Fluence movido a combustível fóssil (160 g/km ao incluir o ciclo completo de produção). Porém, na maior parte do mundo a eletricidade vem de usinas térmicas. Assim um elétrico acaba “emitindo” de 180 a 200 g/km de CO2, um complicador.
No teste organizado, entre Lisboa e Cascais (Portugal), o percurso totalizou 86 km. O ímpeto para arrancar dá a sensação de que a potência (95 cv) e o torque (23 kgf•m) são maiores. Apesar de o motor elétrico atingir 8.900 rpm a aceleração de 0 a 100 km/h em 13 s não empolga e a velocidade máxima é travada em 135 km/h a fim de preservar autonomia. O desempenho sofre com o peso da bateria – 280 kg – colocada atrás do encosto do banco traseiro e invade a área de bagagem. Para garantir o espaço restrito de 317 l no porta-malas, o sedã ganhou 13 cm no comprimento o que prejudicou sua harmonia de linhas.
O Fluence Z.E. nada perdeu em dirigibilidade e o silêncio a bordo é impressionante. Ao final do percurso, três quartos da bateria se esgotou, dirigindo em ritmo normal, mas sem passar por autoestradas. Autonomia total seria de uns 120 km. Economia sobre combustíveis líquidos é em torno de 700 euros (R$ 1.700) por ano, ou seja, 30 anos para recuperar o preço da bateria subsidiada aos primeiros proprietários.
A aliança Renault-Nissan fez uma aposta alta – US$ 5,5 bilhões – na tração puramente elétrica, sem passagem por híbridos (a marca japonesa tem poucos modelos desse tipo; a francesa, nenhum). O Fluence Z.E. inaugura uma fórmula interessante de comercialização: preço de 25.900 euros (R$ 62.400) igual ao do modelo a diesel, sem a bateria de íons de lítio de 398 V/22 kWh. Uma bateria desse tipo custa mais que o carro. Neste caso, o comprador paga um aluguel à parte de apenas 88 euros (R$ 211) durante 36 meses, incentivo pesado do fabricante. Países europeus acrescentam até 5.000 euros (R$ 12.000) de subsídio direto para número limitado de vendas.
Certos mitos podem ser desconsiderados como efeito memória na bateria ou o uso dos faróis diminuir autonomia. A Renault foi cautelosa ao especificar a autonomia, de 80 a 200 km, dependendo de vários fatores. O tempo de recarga pode ser de 7 ou de 22 horas, em função da instalação e tensão local (220 ou 110 V). Nenhuma emissão de poluentes tóxicos acontece enquanto roda, um alívio para as cidades, onde as distâncias médias diárias percorridas ficam em torno de 50 km e o para-e-anda até ajuda a recarregar a bateria.
Há outro lado da questão, ao considerar o CO2 (principal gás de efeito estufa) na geração de eletricidade. Se for de fonte renovável (hidráulica, eólica) ou de origem nuclear, as emissões ficam em torno do equivalente a 15 g/km, contra 120 g/km de um Fluence movido a combustível fóssil (160 g/km ao incluir o ciclo completo de produção). Porém, na maior parte do mundo a eletricidade vem de usinas térmicas. Assim um elétrico acaba “emitindo” de 180 a 200 g/km de CO2, um complicador.
No teste organizado, entre Lisboa e Cascais (Portugal), o percurso totalizou 86 km. O ímpeto para arrancar dá a sensação de que a potência (95 cv) e o torque (23 kgf•m) são maiores. Apesar de o motor elétrico atingir 8.900 rpm a aceleração de 0 a 100 km/h em 13 s não empolga e a velocidade máxima é travada em 135 km/h a fim de preservar autonomia. O desempenho sofre com o peso da bateria – 280 kg – colocada atrás do encosto do banco traseiro e invade a área de bagagem. Para garantir o espaço restrito de 317 l no porta-malas, o sedã ganhou 13 cm no comprimento o que prejudicou sua harmonia de linhas.
O Fluence Z.E. nada perdeu em dirigibilidade e o silêncio a bordo é impressionante. Ao final do percurso, três quartos da bateria se esgotou, dirigindo em ritmo normal, mas sem passar por autoestradas. Autonomia total seria de uns 120 km. Economia sobre combustíveis líquidos é em torno de 700 euros (R$ 1.700) por ano, ou seja, 30 anos para recuperar o preço da bateria subsidiada aos primeiros proprietários.
O futuro chegou? Nem tanto.
RODA VIVA
PORTUGAL foi escolhido para os lançamentos do Fluence e também do Kangoo Z.E. pelo comprometimento do país com a mobilidade elétrica. Empresa do governo, Mobi.E, desenvolveu sistema unificado de reabastecimento por cartão magnético e aplicativos para gerenciar recarga mais barata. Há 1.350 pontos de recarga, sendo 50 de carga rápida, em 25 cidades portuguesas.
ALÍVIO no crédito, anunciado pelo ministério da Fazenda, ajudará bastante a diminuir os estoques altos. Além da maior oferta de financiamentos longos (até 60 meses), juros também serão menores. Há tendência dos bancos serem menos seletivos, principalmente em prazos menores ou com entrada de 10%. Sem essa ajuda, não se alcançariam as metas de vendas de 2011.
AUMENTO do IPI para marcas importadas, fora do Mercosul e México, continuará além de 2012. Rumores preveem essa política até 2015, pelo menos. Em compensação, cronograma para atingir índice mínimo de nacionalização será flexibilizado para novos fabricantes. Se prazos forem cumpridos, governo estuda diminuir o IPI adicional, menos para os que só importam.
FONTES confirmam que o governo vai mesmo obrigar todas as marcas a aderir ao programa de eficiência energética coordenado pelo Inmetro. Etiquetas com dados sobre consumo de combustível não deverão ser mais unificadas com o de emissões (Selo Verde, do Ibama). No entanto, poderá se exigir o nível de CO2 emitido, sempre proporcional ao consumo.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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