Alta Roda nº 749 — Fernando Calmon — 3/9/13
EQUILÍBRIO
DEVE HAVER
A última rodada de testes de impacto do Latin
NCAP (sigla em inglês para programa de avaliação de carros novos) resultou em
novas críticas sobre a real segurança dos automóveis vendidos no mercado
brasileiro e em toda a América Latina, incluído o México.
De fato, comentários negativos deveriam se
centrar nos legisladores porque, afinal, os modelos vendidos na região estão de
acordo com as regulamentações oficiais. No entanto, esse é um assunto complexo,
pois não existe consenso em torno do tipo de teste, velocidades envolvidas,
ferimentos nos dummies (bonecos com
sensores) e atribuição de notas na escala de uma a cinco estrelas.
A regulamentação daqui prevê que as
fábricas podem escolher entre o padrão americano (batida em 100% da frente, a
56 km/h, contra barreira indeformável) e o europeu (batida em 40% da frente, a
64 km/h, contra barreira deformável). Especialistas apontam que o primeiro se
preocupa com dispositivos internos de retenção e o segundo com a estrutura do
habitáculo. Há sérias controvérsias técnicas e políticas sobre o tema.
EuroNCAP surgiu na Europa, em 1997, como
organização não governamental de entidades de consumidores. Houve conflitos
iniciais com fabricantes, mas hoje as regulamentações são discutidas sob cronogramas
adequados. Decidiu, então, expandir os negócios para a única região ainda
inexplorada. Latin NCAP, braço da entidade europeia sediado no Uruguai, começou
há três anos com regras relativamente mais severas para atuar em mercados de
menor poder aquisitivo. Escolheu o padrão europeu, mesmo sabendo que as regras
no Brasil admitem o padrão americano. Outras trapalhadas técnicas ocorreram, por
açodamento e incompetência.
Nova legislação brasileira foi anunciada há
cinco anos para automóveis e comerciais leves e, a partir de 2014, nenhum desses
poderá ser comercializado sem atender critérios biomecânicos de proteção aos
ocupantes. Airbags frontais e freios ABS (antitravamento) serão mandatórios.
Segundo André Dantas, engenheiro mecânico e
mecatrônico, “carro de quatro estrelas não é matematicamente duas vezes mais
seguro que o de duas estrelas. Isso só confunde o consumidor leigo. Além disso,
velocidades em cidades são bem menores e, em estradas, podem gerar forças superiores
às suportadas por órgãos internos do corpo humano. Sistemas de segurança são
eficazes apenas em uma faixa estreita de riscos potenciais”. Para ler seu
artigo completo: tinyurl.com/pylxqb4 .
O Observatório Nacional de Segurança Viária
também questiona os critérios de estrelas e as notas díspares entre segurança
nos bancos dianteiros e de cadeiras infantis no banco traseiro.
Na recente batelada de resultados, o Latin
NCAP testou um modelo sem airbags, embora este seja vendido no Brasil e na
Argentina somente com tais equipamentos de série. Espécie de “castigo” por
serem exportados “inseguros” para outros países latinos. A entidade também se
envolveu em querelas com o Centro de Experimentação e Segurança Viária, da
Argentina.
Na realidade, veículos mais seguros têm custos
maiores. Carros grandes, em geral, oferecem maior proteção que os menores. Um
equilíbrio deve haver. De preferência sem atitudes oportunistas e com
discussões racionais.
RODA VIVA
FORD foi mais ágil e lançará o novo Focus, no fim do mês, com primeiro
sistema de injeção direta para gasolina e etanol hidratado (flex). Tal recurso
permite aumentar potência e diminuir consumo, mas cada fabricante faz acertos
específicos. No caso, potência do motor 2 L subiu 20% para 178 cv (etanol).
Também decidiu concentrar esforço de marketing na versão sedã.
MARCAS como a Audi podem se dar ao luxo de ter duplo sistema de injeção,
direta e indireta (quatro injetores para cada um). É assim o A3 Sportback com motor
1,8 L/180 cv/25,5 kgf∙m. O hatch médio-compacto também está 90 kg mais leve e,
combinado ao novo motor especialmente suave, faz esquecer das agruras do
trânsito na cidade. E se deliciar nas estradas.
CARROS elétricos têm prioridade temática para a Renault e também o Brasil
entrou no radar da empresa. Até agora, apenas a Nissan, sua coligada na aliança
franco-nipônica, estabeleceu esforços por aqui nesse campo. Primeira
experiência com a Companhia Paulista de Força e Luz assemelha-se à da Fiat com
a Itaipu Binacional.
ESCALADA de potência nos motores Diesel de picapes e SUVs médios chegou à
S10 e ao Trailblazer. No ano-modelo 2014, entrega 200 cv igualando-se à Ranger.
Além disso, torque atinge nada menos que 51 kgf∙m. A Chevrolet já havia
diminuído o preço do Trailblazer porque tinha errado na mão. Acrescentou
sistema de áudio com tela tátil de sete pol. e GPS via celular.
PEUGEOT anunciou o preço do 408 com câmbio automático de seis marchas e
motor 2 litros/151 cv. Antes disponível apenas com o turbo de 1.6 L/165 cv, versão
Allure sai por R$ 65.990 ou R$ 2.000 a mais que o anterior automático de quatro
marchas. Vale a pena: trocas de marchas bem mais suaves e silêncio a bordo.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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