Alta Roda nº 737 — Fernando Calmon —
11/6/13
CONFLITO
DE INTERESSES
No próximo mês a indústria atingirá a
produção de 20 milhões de veículos leves cujos motores podem ser abastecidos
indiferentemente com etanol ou gasolina. Mais conhecidos como motores flex, em
pouco mais de 10 anos (completados em março último) conseguiram crescente
aceitação. Hoje, respondem por cerca de 90% das vendas de veículos leves com
motores de ciclo Otto, inclusive de modelos de origem sul-coreana e chinesa que
tiveram desenvolvimento no exterior.
É preciso lembrar que essa tecnologia
chegou a ser ridicularizada no início, em 2003. No entanto, ela veio para ficar
e, aos poucos, superou problemas. Esta semana, a Associação Brasileira de
Engenharia Automotiva (AEA) relembrou a trajetória de sucesso dos motores flex.
Um dos poucos exemplos em que o Brasil vem mostrando competência em termos de
pesquisa e inovação. Na sétima edição do Prêmio AEA de Meio Ambiente, o
trabalho acadêmico vencedor de Jorge Tenório (Universidade de São Paulo) e
Joner Alves (Aperam, ramo siderúrgico) tratou da geração de energia a partir de
resíduos da produção de etanol.
Combustível e veículo se complementam.
Motores flex nasceram para que os proprietários de automóveis tivessem uma
alternativa em função do preço de cada combustível nos postos de abastecimento.
Entretanto, há de se administrar previsíveis conflitos de interesse entre a
indústria petrolífera e a de biocombustíveis. Essa arbitragem deveria caber ao
mercado, mas não dá para deixar de reconhecer ou abrir mão do papel dos
governos. No caso do Brasil isso ocorre de forma errática: hora estimula, hora
desestimula a produção de etanol.
Como bem lembrou o professor Francisco
Nigro, em sua palestra durante a premiação referida, se há objetivo sincero de
redução de emissões de gás carbônico (CO2), o biocombustível de
cana-de-açúcar é imbatível. Para ele, faltam ações coordenadoras ao governo
brasileiro, participante do programa mundial de limitação daquele gás de efeito
estufa que provocaria mudanças climáticas. A descoberta de petróleo na difícil
camada pré-sal, muito abaixo do leito do fundo do mar em águas profundas e
longe da costa, levou a euforia e quase descarte dos combustíveis renováveis.
Nigro lembrou que a indústria precisa
também avançar. Segundo suas pesquisas nos dados disponíveis do programa de
etiquetagem veicular, motores flexíveis ao consumir etanol mostram, na média,
deficiência de 2% em relação à gasolina, especialmente no ciclo rodoviário. Tal
desvantagem não é desprezível, pois se trata de medição de eficiência
energética, em quilojoules/km, que compensa a diferença de poder calorífico
entre os dois combustíveis. Lembra que se trata de média e, assim, há motores
melhores e piores.
Essa situação, por informações de várias
fontes, deve e vai mudar graças às metas impostas no programa Inovar-Auto.
RODA VIVA
CONFORME apurações, essa coluna antecipa que o Nissan
Note substituirá o Livina em janeiro de 2015, na nova fábrica da marca japonesa
em Resende (RJ). Desta unidade sairão antes o March, em janeiro de 2014 e o
Versa, em julho do mesmo ano, hoje importados do México. Os três modelos
compartilham a mesma arquitetura de veículo mundial compacto.
QUEDA nas importações e reação das exportações levaram a indústria a
bater recorde de produção mensal em maio: 348.000 unidades. No acumulado do ano,
o crescimento – também recordista – chega a quase 19%. Vendas no mercado
interno continuam em bom patamar. Estoques subiram para 36 dias, mas hoje nível
entre 30 e 35 dias se considera normal.
AINDA no mês passado a indústria registrou 153.708 empregados, mais 542
vagas. Em 1980, estavam empregadas 153.900 pessoas, em época de baixíssima
automatização e poucas operações terceirizadas. Depois de 33 anos, bastam apenas
pouco menos de 200 novos empregos diretos agora em junho para que o total de
funcionários ultrapasse a marca histórica.
VOLVO V40 deu um salto em estética e tecnologia. Compacto da marca sueca,
importado da Bélgica, é o primeiro automóvel equipado opcionalmente com airbag
de proteção a pedestre. Mostra estilo arrojado, interior bem cuidado e itens
encontrados, em geral, em modelos de classe superior. Parte, completo, de R$
115.900 e pode agregar três pacotes de livre combinação.
MOTOR de cinco cilindros em linha/dois litros/180 cv tem sonoridade
próxima a de um venerável seis-cilindros em linha, mas poderia oferecer
potência maior, pois utiliza turbocompressor. Suspensões independentes nas
quatro rodas garantem comportamento seguro em curvas de qualquer raio. Mas,
agravado pelo uso de pneus de perfil baixo, não é das mais silenciosas.
VEDAÇÃO da capota retrátil de lona do Fiat 500 é tão boa que torna o
interior até mais silencioso do que a versão convencional. De fato, essa capota
funciona mais como enorme teto solar elétrico, que se acomoda atrás do banco
traseiro, depois de compactada. Porém, há movimentação estrutural além do
aceitável, quando totalmente aberta.
____________________________________________________
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário