Alta Roda nº 733 — Fernando Calmon — 14/4/13
EXPORTAR
IMPORTA MUITO
Exportação parece um tema sem grande
importância para quem compra um automóvel produzido no Brasil. No entanto, esse
é um motivo de preocupação. Afinal, o que dá grau de competitividade à
indústria automobilística de um país é o seu nível de produção. O País é o
quarto maior mercado do mundo e apenas o sétimo maior produtor, justamente por
ter perdido sua capacidade de exportar.
Impacto positivo das exportações significa
aumento de escala de produção. Isso, frequentemente, viabiliza tecnologias
sensíveis a volume, em especial as maravilhas da eletrônica de bordo para
segurança e conforto, além de melhorias de qualidade. No novo regime
automobilístico Inovar-Auto estão contemplados investimentos fortes em pesquisa
e inovação, mas não há objetivos claros para o mercado externo. Luiz Moan
Yabiku Jr., novo presidente da Anfavea, coloca como bandeira de sua gestão a
recuperação das exportações até 2017.
Ter produto com bom preço no exterior passa,
obviamente, pela cotação do real. Tanto que em 2005, com câmbio favorável,
quase 900.000 unidades (montadas e desmontadas), 35% da produção anual, deixaram
os portos. No ano passado, apenas 470.000 unidades saíram do país, 14% do
produzido. A meta para daqui a cinco anos é exportar 1 milhão de veículos (20%
da produção). Seria um incomum cenário de equilíbrio: 5 milhões de unidades em
vendas internas, 5 milhões produzidas, 1 milhão de veículos exportados e o
mesmo tanto de importados.
No ano passado o Brasil importou 795.000
veículos, 70% mais do que exportou. Uma saída indica a desvalorização cambial –
boa para exportar e segurar importações –, porém só colocaria a sujeira do
custo Brasil para baixo do tapete. Um real fraco, por sua vez, aumenta os custos
de certos componentes sofisticados, que continuarão a vir do exterior e
aplicados em produtos nacionais.
Há várias sugestões de estímulos às vendas
externas: simplificação do processo aduaneiro, mudanças na legislação
burocrática e retirada de encargos fiscais indiretos ou invisíveis, na longa
cadeia produtiva, estimados em quase 9%. Nenhum país se dá ao luxo de exportar
impostos, típico cacoete brasileiro.
Alguns dos problemas históricos se
concentram nos portos e o governo enfrenta resistências para vencer o arcaísmo.
Só agora alguns deles passam a funcionar 24 horas por dia, fundamental para
escoar volumes. Faltam, até, pátios para estocagem de veículos. Faz pouco tempo
a guerra fiscal entre os portos estaduais, com desconto de alíquotas do ICMS, levava
automóveis vindos do exterior a reconquistar boa parte da competitividade
perdida com o imposto de importação. Em outros termos, desestímulo a quem
produz internamente.
RODA VIVA
PARA fábrica de Betim (MG), Fiat também reserva novidades, que a coluna
antecipa. Cronograma refere-se ao início de vendas. Começo de 2014: novo
Fiorino (cara de novo Uno); um ano depois, início de 2015, novo Doblò (projeto
263); segundo trimestre de 2015, o aguardado subcompacto (projeto 344) sucessor
do Mille. Strada cabine dupla de três portas, fácil de produzir, ainda sem
confirmação.
ALÉM da GM, que já decidiu entrar no mercado de subcompactos (provável
inspiração no sucessor do Opel Adam), Renault também vai mergulhar nos modelos pequenos
de uso urbano preferencial. Projeto para o Brasil será específico, sem aproveitar
quase nada do Twingo francês. Assim o VW Up!, talvez ainda no final do ano,
terá muita concorrência à frente.
LEVANTAMENTO da Anfavea indica: 62 marcas de veículos leves e pesados – total de
1.744 modelos e versões – estão em lojas hoje. Compara-se apenas à China,
estima a coluna. Ou seja, opções de sobra, concorrência acirrada.
ESCALADA dos juros básicos (Selic) não deve ser repassada para taxas do
crédito ao consumidor. Estas dependem bem mais da inadimplência (que resiste a
cair) e da disputa entre bancos e financeiras.
NOVO Maserati Quattroporte, por R$ 950.000, ficou maior (5,26 m de
comprimento) e ao mesmo tempo apertado em nicho minúsculo do mercado.
Impressiona pelos materiais internos de acabamento, em especial na parte
inferior do painel, além de itens de conforto. Motor V-8, biturbo novo, de 3,8
L/530 cv/66,3 kgf∙m, apesar de 1.900 kg do carro, confere 0 a 100 km/h em apenas
4,7 s.
IMPORTAÇÕES recuaram 25% no primeiro quadrimestre de 2013 frente a 2012, segundo
Abeiva, associação de empresas sem produção nacional. Por enquanto, a entidade
não revisou suas previsões. Há sinais contraditórios, como a recuperação em
abril de suas marcas, atribuída ao sistema de cotas do México que afetou, no
mês passado, veículos importados por associados da Anfavea.
LEITORES reclamam que Detrans estaduais têm recusado, sistematicamente,
cancelamento previsto em lei de multas de classificação leve para bons
motoristas, transformáveis em advertência como viés educativo. Quem quer perder
arrecadação? Depois negam existência da indústria de multas. Conversa que não
dá para acreditar, desmistificada por fatos como esse.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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