Alta Roda nº 748 — Fernando Calmon — 27/8/13
INOVAR:
DÚVIDAS E INCERTEZAS
Nunca se falou tanto sobre engenharia
nacional, desenvolvimento e pesquisa em território brasileiro depois que o
governo lançou o novo regime para a indústria automobilística batizado
Inovar-Auto. Entre 2013 e 2017, são cinco anos corridos para um esforço
concentrado em vários objetivos, entre eles eficiência energética, aumento de
conteúdo local em autopeças e, especialmente, atrair novos fabricantes,
inclusive de veículos premium.
No entanto, a complexidade do programa é de
tal ordem que depois de quase um ano de seu anúncio oficial ainda permanecem
dúvidas e incertezas. Agora mesmo, foi adiado desta semana para setembro uma
parte importante e complicada sobre rastreamento do índice de nacionalização de
autopeças enviadas à indústria. Seu viés intervencionista, a lentidão e eventual
conflito com regras internacionais de comércio tornam difícil saber se, mesmo
bem sucedido, terá valido a pena.
Esse adiamento repercutiu no XXI Simea 2013,
simpósio organizado em São Paulo, semana passada, pela Associação Brasileira de
Engenharia Automotiva (AEA). Sob o tema “Inovação e competitividade no novo
regime automotivo” foi o mais completo e de maior importância, desde a fundação
da entidade em 1984.
O presidente da Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial, Mauro Lemos, chegou a antecipar os planos da Audi
de produzir em São José dos Pinhais (SP). Mas a marca alemã vai esperar até ver
a regulamentação final do setor de autopeças e sua integração contábil aos
impostos e isenções.
Um ponto positivo foi a confirmação do
grande centro de testes (inclusive de colisão contra barreira), consumo e
emissões, além de um completo campo de provas, que o Inmetro (Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) promete construir em dois anos,
em Duque de Caxias (RJ). Por trás desse investimento de peso continua o sonho
governamental de surgir uma marca genuinamente brasileira de automóveis, o que
no cenário atual parece bem difícil. Em São Bernardo do Campo (SP) há planos de
outro grande laboratório para homologações. Nos bastidores do Simea houve quem
ponderasse excesso de projetos na área de testes; outros acham que existirá
mercado para tudo que vier. Isso mesmo com novos investimentos da Ford e da
Fiat para se equiparar a Chevrolet e Volkswagen, ambas capazes de projetar
carros no Brasil.
Notou-se crescente nível técnico entre 60
trabalhos e palestras, nos dois dias do evento. Para citar alguns: otimização
de sistema de retenção veicular para impacto frontal; avaliação da integridade
de ocupantes de picapes em capotagem; dispositivo inovador de assistência para
arrancada em rampa; tecnologia de sensoriamento em sistema eletrônico de
comando em câmbios automatizados.
Atributos e benefícios da nova gasolina de
baixo teor de enxofre (S50), que começa em janeiro de 2014, foram destacados.
Simultaneamente, toda a gasolina vendida será aditivada para se alinhar às
especificações internacionais, embora a Petrobrás indique dificuldades dessa
operação na própria refinaria. Sugere que as distribuidoras o façam, mas a agência
reguladora mantém a exigência, o que pode adiar a aditivação por alguns meses.
RODA VIVA
TOYOTA providenciou modificações internas cosméticas na linha Etios 2014,
que chega em setembro. Empresa já decidiu: fará intervenções maiores no próximo
ano, inclusive novo painel. Por enquanto, melhorou visibilidade dos
instrumentos.
INÍCIO de produção do Logan reestilizado sofreu pequeno atraso: ficou para
outubro. Hatch Sandero, também reformulado, passou do primeiro para o final do
segundo trimestre de 2014.
TERCEIRA geração do Outlander estreia arquitetura toda nova e vários recursos
eletrônicos: controle de velocidade adaptativo, frenagem total automática
anticolisão abaixo de 30 km/h e sensores de abertura/fechamento da tampa
traseira, entre outros. Motor V6/240 cv é algo mais ruidoso do que o desejável,
mas economiza 5% de gasolina. Continua o 2-litros/160 cv (2/3 das vendas). De
R$ 102.990 a R$ 139.990.
NOVO Fiesta sedã, na versão de topo Titanium, não é tão bom em espaço
interno, mas impressiona pela segurança passiva (sete airbags) e ativa
(controle de trajetória). Motor de 130 cv (etanol), sem ajuda de gasolina na
partida, casa melhor com câmbio automatizado de 6 marchas. Mudanças de marcha
seguem padrão americano (troca mais lenta) e não europeu.
PEUGEOT 408 dispõe de caixa automática de câmbio, 6 marchas (da japonesa
Aisin), à altura do motor de 1,6 L turbo de 165 cv, e agora também no motor 4-cilindros/2
L/151 cv. Ganhou 1,4 s de 0 a 100 km/h e 0,6 s de 80 a 120 km/h, além de 5% no
consumo médio com ajuda de pneus verdes. Mudanças na suspensão também
melhoraram dirigibilidade e comportamento em curvas.
CÓDIGO de trânsito prevê multa para pedestres infratores e nunca houve
forma de cobrança, alegam. Porém, prefeitura do Rio resolveu multar transeuntes
que jogam lixo no chão. Ou seja, vida vale menos que lixo. Realmente, falência
do sistema.
____________________________________________________
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário