PALIO: FELICIDADE, DE UM LUGAR INESPERADO
Postado por Marco Antônio Oliveira no AUTOENTUSIASTAS
Em 2001 as coisas não andavam bem comigo. Um sem fim de problemas me assolava, e um deles era o fato de estar sem carro para meu uso diário. Tínhamos em casa um dos últimos Tempra, modelo 99 (comprado novo ao final de 98), mas minha esposa, que trabalhava em vários lugares e levava e buscava nossa filha na creche, tinha o monopólio sobre ele. Me sobrava o maldito transporte coletivo e a escravidão de seus horários fixos, itinerários inflexíveis e companhias indesejáveis. Eu encarei esta situação enquanto não havia outra saída, mas amaldiçoava minha triste situação todo santo dia, ao esperar o ônibus no ponto de manhã. Era um escravo que ansiava pela liberdade.
Aí, consegui um dinheiro. Não era uma fortuna, mas o suficiente para comprar o mais barato carro nacional novo. Sem tempo ou disposição para muita frescura, anunciei em casa que ia comprar um Uno Mille zero, a assim ter um problema a menos na vida. A esposa fez uma careta e me pediu: “ahnnnn, não dá para comprar um Palio? É bem mais bonitinho...”
Mulheres!!!! Contrariado mas sem brigar, prometi a ela que se a grana fosse suficiente, comprava a porcaria do Palio, e saí atrás do carro. Acabei comprando um Palio Young, um dos últimos com o motor “Fiasa”, e que, portanto, por ser um carro descontinuado, estava apenas a 500 reais de distância do Mille Fire. Duas portas, o mais básico entre os básicos, sem nem ao menos retratores nos cintos traseiros. Cinza-chumbo metálico, sem acréscimo de preço.
Aí, consegui um dinheiro. Não era uma fortuna, mas o suficiente para comprar o mais barato carro nacional novo. Sem tempo ou disposição para muita frescura, anunciei em casa que ia comprar um Uno Mille zero, a assim ter um problema a menos na vida. A esposa fez uma careta e me pediu: “ahnnnn, não dá para comprar um Palio? É bem mais bonitinho...”
Mulheres!!!! Contrariado mas sem brigar, prometi a ela que se a grana fosse suficiente, comprava a porcaria do Palio, e saí atrás do carro. Acabei comprando um Palio Young, um dos últimos com o motor “Fiasa”, e que, portanto, por ser um carro descontinuado, estava apenas a 500 reais de distância do Mille Fire. Duas portas, o mais básico entre os básicos, sem nem ao menos retratores nos cintos traseiros. Cinza-chumbo metálico, sem acréscimo de preço.
Procurava apenas um carro, ponto final. Tinha que ser novo porque não queria visitar oficinas, queria rodar. Qual carro não importava, na verdade. Dois anos sem carro me lembraram do que é realmente incrível no automóvel: a liberdade que ele proporciona. Carros são coisas sensacionais, maravilhosas e essenciais para que uma pessoa seja realmente livre. Não deixe que ninguém te diga algo diferente.
No dia que fui buscar o carro, portanto, não esperava nada dele. Carro básico, mobilidade e mais nada. Mas no exato momento que coloquei o bichinho em movimento, senti que tinha recebido bem mais do que pedira.
Aquele pequeno carro era simplesmente sensacional. Percebi isso logo nos primeiros metros, na primeira vez que saí com ele. Como um amigo com o qual percebemos afinidade na primeira conversa, como aquela menina que te desequilibra na primeira vez em que seus olhos se encontram com os dela, eu e o Palio nos demos bem assim que saímos da concessionária, naquele exato momento em que eu acelerei o carrinho para acompanhar o tráfego lá fora, naquele momento único em que levei aquele carro novo pela primeira vez para o mundo de verdade, lá para o meio do trânsito caótico de São Paulo.
Primeiro, era um carro leve. Muito leve, de uma forma que a gente não só sentia na inesperada vontade com que o pequeno motor de um litro puxava o carro, mas também na forma com que mudava de direção. A leveza era um sentimento que permeava a experiência de dirigi-lo, algo sempre presente. Portas grandes, mas finas e levíssimas, com um painel de porta simples, lembravam sempre que se entrava nele que baixo peso (e baixo preço) fora desenhado de propósito. A forma com que a suspensão, firme sem ser dura, trabalhava bem em conjunto com os pneus 155/80 R13 me mostrava também que o carro era leve: pneus e rodas tão pequenos e leves só podiam trabalhar tão bem num carro também leve, sendo a relação entre massa suspensa/massa não suspensa essencial para isso. Nunca tive vontade de colocar pneus maiores no carrinho, como vejo acontecer por aí freqüentemente, pois isso arruinaria o que era para todos os efeitos, um compromisso magnífico entre conforto e estabilidade, com ênfase aqui em estabilidade.
No dia que fui buscar o carro, portanto, não esperava nada dele. Carro básico, mobilidade e mais nada. Mas no exato momento que coloquei o bichinho em movimento, senti que tinha recebido bem mais do que pedira.
Aquele pequeno carro era simplesmente sensacional. Percebi isso logo nos primeiros metros, na primeira vez que saí com ele. Como um amigo com o qual percebemos afinidade na primeira conversa, como aquela menina que te desequilibra na primeira vez em que seus olhos se encontram com os dela, eu e o Palio nos demos bem assim que saímos da concessionária, naquele exato momento em que eu acelerei o carrinho para acompanhar o tráfego lá fora, naquele momento único em que levei aquele carro novo pela primeira vez para o mundo de verdade, lá para o meio do trânsito caótico de São Paulo.
Primeiro, era um carro leve. Muito leve, de uma forma que a gente não só sentia na inesperada vontade com que o pequeno motor de um litro puxava o carro, mas também na forma com que mudava de direção. A leveza era um sentimento que permeava a experiência de dirigi-lo, algo sempre presente. Portas grandes, mas finas e levíssimas, com um painel de porta simples, lembravam sempre que se entrava nele que baixo peso (e baixo preço) fora desenhado de propósito. A forma com que a suspensão, firme sem ser dura, trabalhava bem em conjunto com os pneus 155/80 R13 me mostrava também que o carro era leve: pneus e rodas tão pequenos e leves só podiam trabalhar tão bem num carro também leve, sendo a relação entre massa suspensa/massa não suspensa essencial para isso. Nunca tive vontade de colocar pneus maiores no carrinho, como vejo acontecer por aí freqüentemente, pois isso arruinaria o que era para todos os efeitos, um compromisso magnífico entre conforto e estabilidade, com ênfase aqui em estabilidade.
O carrinho nunca colocou uma roda que fosse em um lugar errado, durante todo o tempo em que ficamos juntos, mais de 3 anos. E em autoestrada, a velocidades impublicáveis, nunca falhou em me deixar de queixo caído com a maneira que se mantinha estável e seguro.
Depois, a forma em que aquele motorzinho de um litro injetado subia de giro com vontade e alegria, a forma com que o câmbio de engates precisos e suaves casava com ele, era algo sublime. O trem de força passava a impressão de estar folgado com o pequeno peso do carro, e na verdade o carro todo operava como se tivesse abolido o atrito completamente. Rodava solto, leve, folgado, sem asperezas ou dúvidas. Se você, em marcha-lenta no plano, forçasse a alavanca em direção à primeira marcha sem acionar a embreagem, os sincronizadores empurravam o carro para frente um pouco, e a marcha entrava suavemente. Não é algo recomendável de se fazer (acaba com os sincronizadores), mas neste carro fazia muito, bem como trocar as marchas sem embreagem, porque ele me pedia isso. Sim, eu conversava com ele. Sim, eu tenho problemas...
Este pequeno motor é um dos mais memoráveis que já experimentei. Um exemplo de como dados frios podem nos enganar: o motor não era nem excepcionalmente potente, nem especialmente econômico, apesar de não ser também ruim em nenhum dos casos. Um simples quatro em linha com comando no cabeçote e baixo deslocamento volumétrico, desenhado nos anos 60, mas neste caso, em sua última evolução, trazido ao século 21 por meio da injeção eletrônica multiponto. Um litro, superquadrado, 61cv. Parece, olhando apenas para os dados, algo mediano e sem interesse especial. Mas nada podia estar mais longe da verdade.
Este motor foi o primeiro grande projeto de Aurelio Lampredi na Fiat, e uma de suas obras-primas. Famoso por seu trabalho em exóticos motores na Ferrari, Lampredi veio a Fiat nos anos 60 para atualizar os então cansados e antigos motores da companhia. Ambos os motores que criou, este e o não menos famoso Fiat DOHC (que aqui viemos a conhecer nos primeiros Tempra), duraram por mais de 20 anos, foram a média com pão e manteiga diária da empresa por décadas, e fizeram a Fiat moderna, em termos de propulsor. Um motor de pedigree impecável, portanto, unindo a grande experiência da Fiat em criar motores pequenos, econômicos e principalmente baratos, com todos os intangíveis aspectos que fazem um motor Ferrari ser delicioso, trazidos à Turim diretamente de Maranello, sem escalas, pelo nosso bom amigo Lampredi.
Depois, a forma em que aquele motorzinho de um litro injetado subia de giro com vontade e alegria, a forma com que o câmbio de engates precisos e suaves casava com ele, era algo sublime. O trem de força passava a impressão de estar folgado com o pequeno peso do carro, e na verdade o carro todo operava como se tivesse abolido o atrito completamente. Rodava solto, leve, folgado, sem asperezas ou dúvidas. Se você, em marcha-lenta no plano, forçasse a alavanca em direção à primeira marcha sem acionar a embreagem, os sincronizadores empurravam o carro para frente um pouco, e a marcha entrava suavemente. Não é algo recomendável de se fazer (acaba com os sincronizadores), mas neste carro fazia muito, bem como trocar as marchas sem embreagem, porque ele me pedia isso. Sim, eu conversava com ele. Sim, eu tenho problemas...
Este pequeno motor é um dos mais memoráveis que já experimentei. Um exemplo de como dados frios podem nos enganar: o motor não era nem excepcionalmente potente, nem especialmente econômico, apesar de não ser também ruim em nenhum dos casos. Um simples quatro em linha com comando no cabeçote e baixo deslocamento volumétrico, desenhado nos anos 60, mas neste caso, em sua última evolução, trazido ao século 21 por meio da injeção eletrônica multiponto. Um litro, superquadrado, 61cv. Parece, olhando apenas para os dados, algo mediano e sem interesse especial. Mas nada podia estar mais longe da verdade.
Este motor foi o primeiro grande projeto de Aurelio Lampredi na Fiat, e uma de suas obras-primas. Famoso por seu trabalho em exóticos motores na Ferrari, Lampredi veio a Fiat nos anos 60 para atualizar os então cansados e antigos motores da companhia. Ambos os motores que criou, este e o não menos famoso Fiat DOHC (que aqui viemos a conhecer nos primeiros Tempra), duraram por mais de 20 anos, foram a média com pão e manteiga diária da empresa por décadas, e fizeram a Fiat moderna, em termos de propulsor. Um motor de pedigree impecável, portanto, unindo a grande experiência da Fiat em criar motores pequenos, econômicos e principalmente baratos, com todos os intangíveis aspectos que fazem um motor Ferrari ser delicioso, trazidos à Turim diretamente de Maranello, sem escalas, pelo nosso bom amigo Lampredi.
O motor do meu Palio era sensacional; liso e suave, forte o suficiente para entusiasmar no pequeno carro, e um companheiro fiel para dirigir à moda. Toda vez que saía com ele, ele rapidamente entendia meu estado de espírito e acompanhava; se tranqüilo ele falava baixo e se mantinha suave e até torcudo para que esquecesse que estava ali e me perdesse em meus pensamentos; e se estivesse assim inclinado, o bichinho colocava uma faca entre os dentes, e sai de baixo... Não se engane, é possível andar absurdamente rápido com um carro daqueles. Nunca achei que precisava de mais motor, e nada menos que isso seria aceitável; a própria definição de perfeição. Ah, como sinto falta dele...
Existiam defeitos no carro, claro. O principal era o mecanismo de direção, pesado em esforço, não muito comunicativo, nem preciso. O volante também tinha aro demasiadamente grosso, e descascou rapidamente com o tempo. Mas acho que é só o que mudaria no carro. Na verdade, ainda hoje me espanto o quanto de carro pude comprar com tão pouco dinheiro. A confiabilidade era impecável: não me lembro de fazer manutenção alguma nele. Fiquei com o Palio por 3 anos, 4 casas, 2 empregos e 2 estados diferentes da união. Por um período curto, mas intenso, chegou a ser o único carro da família, função que cumpriu com honra. Lembro-me sempre deste carro quando alguém fala mal de “carro mil”, ou como exemplo de como não é necessário ser milionário para ter um carro legal. Às vezes, a felicidade está bem debaixo de nossos olhos e não percebemos, preocupados que estamos em ter sempre mais. Desconfio que se tivesse usado o dinheiro do Palio como entrada de um carro mais caro, não teria sido tão feliz.
Por coincidência ou não, depois do Palio as coisas começaram a melhorar. Troquei de emprego, de casa, de vida, de cidade, e esqueci todos aqueles problemas. Ainda hoje sinto saudades dele, mas mesmo sabendo que existem Milles e Palios novos bem parecidos, prefiro guardar na memória o dia em que saindo da concessionária, acelerei pela primeira vez aquele motorzinho com vontade, e a felicidade que senti vendo a deliciosa reação dele
Na hora, senti que partia para um novo começo, e quem me levaria era um novo amigo. E foi exatamente o que aconteceu.
MAO
Existiam defeitos no carro, claro. O principal era o mecanismo de direção, pesado em esforço, não muito comunicativo, nem preciso. O volante também tinha aro demasiadamente grosso, e descascou rapidamente com o tempo. Mas acho que é só o que mudaria no carro. Na verdade, ainda hoje me espanto o quanto de carro pude comprar com tão pouco dinheiro. A confiabilidade era impecável: não me lembro de fazer manutenção alguma nele. Fiquei com o Palio por 3 anos, 4 casas, 2 empregos e 2 estados diferentes da união. Por um período curto, mas intenso, chegou a ser o único carro da família, função que cumpriu com honra. Lembro-me sempre deste carro quando alguém fala mal de “carro mil”, ou como exemplo de como não é necessário ser milionário para ter um carro legal. Às vezes, a felicidade está bem debaixo de nossos olhos e não percebemos, preocupados que estamos em ter sempre mais. Desconfio que se tivesse usado o dinheiro do Palio como entrada de um carro mais caro, não teria sido tão feliz.
Por coincidência ou não, depois do Palio as coisas começaram a melhorar. Troquei de emprego, de casa, de vida, de cidade, e esqueci todos aqueles problemas. Ainda hoje sinto saudades dele, mas mesmo sabendo que existem Milles e Palios novos bem parecidos, prefiro guardar na memória o dia em que saindo da concessionária, acelerei pela primeira vez aquele motorzinho com vontade, e a felicidade que senti vendo a deliciosa reação dele
Na hora, senti que partia para um novo começo, e quem me levaria era um novo amigo. E foi exatamente o que aconteceu.
MAO
5 comentários:
Depois de três Palio's tenho razões de sobra para aprovar o modelo.
Eu tive vários carros da Fiat, incluindo um Pálio young só que quatro portas. Nunca tive problemas com nenhum deles. Foram todos "só alegrias"...
Vocês tiveram sorte, eu tive um único palio 98 1.0 (em 1999) e vou te contar, não andava e gastava feito um DC-10. Admito que não quebrou nenhuma vez, porém troquei por um gol special em 2000 (novo), apenas 4 meses depois que comprei o palio. Peguei trauma, não quero mais pálio, mas tenho uma strada 2007 que é 10.
Realmente vc foi feliz amigo, porem tenho o mesmo carro , do mesmo modelo e ano, anda como um fusca e bebe como um opala, nessas horas tenho raiva da minha mulher, pois eu ia comprar um opala 91 preto 6 c alcool e estaria mais tranquilo quando ao consumo, pois meu palio faiz 6 por litro não anda nada, ja me deixou na mão travando a ventoinha, e aquecendo o automatico e cortando a partida, esse carro esta com 59 mil rodados hoje sou segundo dono, carro esta impecavel, porem ja me dando trabalho ! Diego
eu tenho um 1999 ex ar trava e alarme motor fiasa Mpi estar comigo a 5 anos as principais ocorrências foi troca do cebolão da ventoinha depois buchas das bandejas superior e inferior eu sou o terceiro dono e ele continua macio e silencioso e olhando para ele .ele entra em contraste com os carros novos de hoje pelo desingner redondo eu amo meu carrinho não vou vender nunca é como um cachorro de estimação vou comprar um outro carro e vou continuar com ele até o fim de minha vida .... ass Alexsandro silva ... Salvador Ba em nome do clube palio
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