Quando Ettore Bugatti percebeu, lá por 1931, que seu carro feito para reis não ia muito longe, com seis unidades vendidas, começou a pensar no que fazer com o descomunal motor de oito cilindros em linha e12.750 cm³. Como não fabricava caminhões, o jeito foi projetar o que se convencionou chamar de Autorail, um vagão ferroviário auto propelido e muito aerodinâmico.
No Brasil esse tipo de equipamento ferroviário foi comum entre Rio e São Paulo nos anos 50 e 60, com o nome italiano de litorina. Era uma espécie de ônibus sobre trilho fabricado pela Budd americana e movido por motores Detroit Diesel e cambios automáticos Allison, tudo sob o piso. São usados até hoje em uma linha turística entre Curitiba e Morretes, no litoral paranaense. Uma pena que viajar de trem no Brasil é um costume que morreu. Mas a tradição ameaça renascer com um trem bala que fará o percurso entre os dois centros em duas horas e meia, o verdadeiro "trem dos covardes"...
A solução encontrada por Bugatti foi idear uma viatura ferroviária auto propelida com o vasto motor de 200 CV a2.000 rpm. Os quatro motores eram montados no centro da viatura, acoplados em pares a dois cambios eletromecânics Cotal de das marchas, par facilitar a saida da imobilidade. Eram comandados pelo maquinista de uma cabine por cima do teto. Na foto acima vemos o interior da cabine de passageiros, estofada com todo o luxo francês dos anos trinta.
Aqui vemos o gigantesco Buggatti Royale encomendado por Armand Esders para andar só de dia, portanto sem faróis para estragar as linhas fluídas. Pela proporção entre o dono e o carro pode-se sentir o pequeno tamanho do veículo.. e imaginem o consumo de Gasolina que os quatro motores desses bebiam para mover as 20 toneladas de alumínio... Funcionaram de 1933 a 1958, quando ficaram antieconomicas pelo consumo e o preço do petróleo, e uma era de luxo e conforto acabou.
Uma interessante variação do tema da litorina foi a Micheline, uma Invenção de André Michelin com motor Hispano Suiza de V12 e 220 CV. As primeiras chegavam a mais de 90 km por hora e tinham pneus nas rodas de aço. para eliminar o DUM DUM das junções de trilhos e se tornarem mais macias ao rodar. Abaixo uma foto das rodas patenteadas pela Michelin.
As nossas Litorinas com motor Detroit Diesel, que ainda circulam na Serra do Paraná. |
Um comentário:
m´sieur mahar,
o royalle de armand esders não tinha faróis em razão de um acordo entre ele, a família e os bugatti.
coisa simples de entender quando se pensa que as vendas eram personalíssimas e após convívio entre o interessado e m´sieur le patron em seu castelo. somente após aferir educação, cultura e bons modos é que ettore consentia em vender os automóveis. um pioneirismo na tese ainda hoje adotada pelo luiz felipe da gama cruz, que só vende automóveis a quem de seu nível.
o problema é que m. esders pouco enxergava durante o dia, e à noite, nada.
ante a evidência bugatti não queria vender-lhe o carro, até que se chegou a uma solução salomônica - nada com o poderoso rei, mas salomon feldman, gerente do banco utilizado pelo excêntrico bugatti: vendia o carro desde que o carrozziere se comprometesse a não colocar faróis e a família esders aquiescesse em não aplicá-los a posteriori. assim, ...
na prática não era epicurismo para evitar agressão à aerodinâmica, mas simplesmente o fato de o interessado pouco ou nada enxergar.
Postar um comentário