Alta Roda nº 766 — Fernando Calmon — 7/1/14
COMBUSTÍVEL
MAIS LIMPO
Ofuscada pela celeuma irresponsável sobre a
(quase) continuidade por mais dois anos de produção de modelos sem airbags e
ABS de série, uma ótima notícia passou praticamente despercebida. Desde 1º de
janeiro último toda a gasolina comercializada no Brasil terá teor de enxofre de
apenas 50 ppm (partes por milhão) ou S-50.
Antes a especificação da ANP (Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) era de absurdas 800
ppm, embora a Petrobrás já viesse reduzindo bastante essa carga ao longo dos
anos. Ajudou a mistura com etanol que
tem zero de enxofre.
Os benefícios atingem motores futuros, com
tecnologias avançadas (injeção direta estratificada, por exemplo, diminui
consumo) e os atuais. Nestes haverá redução de depósitos e contaminação do óleo,
diminuição de poluentes, além de menor teor de aromáticos e olefínicos.
Por fim, a gasolina S-50 é menos sujeita à
oxidação e à consequente formação de goma e seus depósitos indesejáveis.
Oxidação, fenômeno natural de envelhecimento do combustível, pode ser retardada
em no mínimo três vezes (de três meses para nove meses ou mais).
Desentendimento inacreditável entre ANP e
Petrobras adiou por 18 meses (até julho de 2015) a aditivação obrigatória de
toda a nova gasolina, hoje opcional. A Agência quer adição feita nas refinarias
(monopólio da estatal) e a empresa desejava empurrar para as distribuidoras.
Como a regulamentação é de 2009, dá para ver mais uma vez como o governo federal
administra mal suas próprias decisões.
Graças a essa gasolina de maior qualidade
as operações (desnecessárias na maioria das vezes) de limpeza de válvulas
injetoras e corpo de borboleta perderão o sentido. Era hora também de pelo
menos dois fabricantes, Ford e VW, cancelarem a discutível troca de óleo do
motor a cada seis meses. Trata-se de desperdício financeiro para os motoristas,
com reflexos ambientais. Assim, o combustível fóssil se alinha às melhores
especificações mundiais, embora alguns países já ofereçam a S-10 – 10 ppm de
enxofre (no Brasil só a gasolina Podium, da Petrobras).
Por outro lado não se cogita de incentivar
o aumento de eficiência energética no uso de etanol em motores flex. Estudo interessante
foi apresentado em recente seminário do Instituto Nacional de Eficiência
Energética. Entre 1983, quando se criou o primeiro programa de economia de
combustível, e 2013 o consumo médio de gasolina dos motores dos quatro maiores
fabricantes evoluiu 21% e o de etanol, apenas 7%. A comparação em MJ/km, mais adequada
por compensar a diferença de conteúdo energético entre os dois combustíveis,
mostrou que a média atual favorece em 1,5% o uso de gasolina nos motores flex.
Como se trata de média há motores melhores e piores, quanto a esse indicador.
No programa Inovar-Auto, cujo maior mérito
é impor menor consumo, erroneamente não há distinção das metas entre os dois
combustíveis. Já se sabe que tecnologias como injeção direta e turbocompressor
são favoráveis ao etanol em motores flex. Isso acaba de se comprovar na unidade
turboflex do BMW 320i. Embora sem fornecer dados de consumo, a fábrica estima
que bastam 25% de diferença no preço dos postos para garantir menor custo/km ao
rodar com etanol.
RODA VIVA
BARREIRA mágica de quatro milhões em vendas anuais de veículos não se
atingiu em 2013 e nem se prevê este ano. Em relação a 2012 houve queda de 0,9%
(veículos leves e pesados somados). As 3,76 milhões de unidades (nacionais e
importadas) interromperam a trajetória de nove anos de licenciamentos recordes.
Anfavea espera que o mercado cresça só 1,1% em 2014.
PELO menos em 2013 foram dois recordes. Produção cresceu 9,9%, para 3,74
milhões de unidades, graças à substituição de produtos importados e ao grande
salto de 26,5% nas exportações (563.000 unidades). Mercado externo ainda está
longe das 900.000 unidades de 2005. Mas em valores (US$ 16,5 bilhões), novo
recorde, graças às autopeças e máquinas agrícolas.
AGORA que a Fiat adquiriu controle de 100% da Chrysler abre-se caminho
para a completa fusão. A empresa americana, hoje, é lucrativa graças à
rápida recuperação do seu mercado interno. O grupo italiano ainda é deficitário,
mas passa a ter acesso total ao caixa da Chrysler. Grande alívio para a
Fiat, que poderá depender menos de resultados no Brasil.
CARLOS
GHOSN, principal executivo da aliança
Renault-Nissan, veio ao Brasil para anunciar produção de motores Nissan na nova
fábrica do March/Versa, em Resende (RJ), a inaugurar em abril próximo. Essa
coluna antecipara a informação há mais de um ano. Produção, por enquanto, será
apenas do motor de 1,6 litro; o de 1 litro continuará vindo da Renault.
FINALMENTE garantia total de três anos começa a ser regra no Brasil. VW
anunciou ampliação (antes limitada a motor/câmbio) aos veículos produzidos
aqui. Ficaram de fora apenas Saveiro (veículo comercial) e modelos que saíram de
linha (Gol G4 e Kombi) ou estão saindo em 2014 (Golf antigo e Polo). Outras
marcas terão que acompanhar.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Um comentário:
Está tão óbvio a compulsão ao negativismo! Está cada vez mais difícil despistar. O jabá do Millenium tá correndo solto.
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