segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

ÁGUA DO PROFESSOR PARDAL POR BORISS FELDMAN

Água como combustível é coisa de “professor Pardal”. Mas ela já foi e poderá voltar a ser utilizada para tornar os motores mais eficientes.
Volta e meia aparece na tevê um “professor pardal” que põe um motor para funcionar com água. E prova por a+b que encontrou a solução definitiva para a substituição do combustível fóssil. Nos dias seguintes, não param de pipocar comentários e a questão de sempre: “Por que a indústria automobilística não adota esta solução? Por pressão das empresas de petróleo?”
Se a água fosse mesmo capaz de movimentar um motor, estaria resolvido um dos maiores problemas do planeta. Aliás, basta reparar em sua fórmula para se constatar que a solução está por perto: H20 é uma composição de hidrogênio com oxigênio. E o H2 tem de fato a energia necessária para movimentar um veículo. Poderia (e já foi) utilizado diretamente como combustível no motor a combustão ou para produzir energia elétrica numa célula a combustível (fuel cell). Mas obter o hidrogênio é uma operação de custo tão elevado que inviabiliza sua aplicação em escala industrial. Este ainda é um empecilho ao automóvel elétrico movimentado pelo hidrogênio: sua obtenção, distribuição e armazenamento.
Entretanto, o uso da água no motor a combustão interna não está descartado. Ela já foi utilizada diversas vezes no passado, não como combustível, mas como elemento auxiliar para aumentar a eficiência da combustão da gasolina. No século passado, o sistema de injeção de água foi utilizado em motores de tratores, aviões e carros de competição. Na década de 60, um automóvel da GM (Oldsmobile F-85) teve injeção de álcool/água no coletor de admissão de seu motor turbo. Chrysler e Saab também realizaram experiências semelhantes.
Mas a idéia não foi abandonada: a Bosch apresentou este ano, num simpósio sobre motores em Viena, um novo desenvolvimento do sistema. A idéia básica está na absorção de calor quando a água se transforma em gotículas. No motor turbo, o ar que chega ao coletor de admissão já resfriado pelo intercooler (radiador) tem sua temperatura novamente reduzida em cerca de 25 ºC com a injeção de água, aumentando ainda mais a densidade do oxigênio. Além disso, a água é injetada também dentro dos cilindros, o que reduz a temperatura de pico da mistura em cerca de 70 ºC, aumenta a eficiência e permite aumentar a taxa de compressão, pois reduz a possibilidade de detonação.
Segundo os estudos da Bosch, a injeção de água (numa proporção que pode variar de 25 a 30% do combustível) pode aumentar a potência do motor (ou reduzir o consumo, em função dos objetivos do fabricante) em cerca de 10%. Além do acréscimo de eficiência, há também uma redução nas emissões de CO2 e NOx.
O sistema ainda não existe comercialmente, mas a BMW já o aplica num motor 1,5-L de três cilindros, obtendo potência acima de 200 cv e uma considerável redução de emissões. Os custos adicionais ainda não foram estabelecidos mas não serão baixos, pois será necessário instalar injetores de alta pressão nos coletores e nos cilindros . E um reservatório de água para o sistema (cerca de cinco litros). A BMW teve uma idéia interessante para reduzir as dimensões deste tanque: direcionou para ele a mangueira de água do ar-condicionado que, funcionando em condições normais, produz cerca de um litro por hora.
O sistema ainda está em desenvolvimento, mas a Bosch acredita que sua produção em série será iniciada dentro de dois a três anos.
BF

2 comentários:

Sacco disse...

Eu sempre achei a água do condensador do ar-condicionado devesse ser prevista para utilizada de alguma forma no próprio carro. Por ser "naturalmente destilada", seu uso para diluição do líquido de arrefecimento já seria oportuno. No carros que não usam bateria selada (ainda existem?) também. Mas a ideia da BMW é excelente, pois a ausência de minerais nessa água condensada ajuda a preservar as parte internas do motor da corrosão. Lembro que para interromper a corrosão de "caixas pretas" encontradas em acidentes aeronáuticos ocorridos no mar, a primeira recomendação dos respectivos fabricantes é submergi-las em água potável destilada.

Geraldo HT Motos disse...

Sacco, vi uma reportagem de um motorista de uma empresa de ônibus que reaproveitou a água do ar condicionado para o reservatório do limpador de para brisas, simples e genial! A empresa adotou a idéia para toda a frota!